Com Luis Tomas, sobre a situação na Frito Lay
Frito Lay (PepsiCo) iniciou um processo de automatização que se traduziria em uma redução na mão de obra de uma unidade de produção onde trabalham principalmente mulheres. A Rel conversou com Luis Tomas, dirigente do Sitrafritolay.
Gerardo Iglesias
06 | 02 | 2023
Imagem: Álvaro Santos
-Há uns dias, apareceu nos jornais uma impactante denúncia sobre as condições de trabalho na Frito Lay (PepsiCo), onde um número crescente de trabalhadoras passou a sofrer de lesões por esforços repetitivos (LER).
-É lamentável que o assunto da automatização venha nos gerar esse tipo de situações dentro da fábrica de produção. Desde o início, explicamos para a empresa que não estávamos contra a automatização, mas que não queríamos a sobrecarga de trabalho desencadeada nestes processos.
Quisemos criar comissões para avaliar os postos de trabalho, mas há aproximadamente um mês um funcionário administrativo de recursos humanos simplesmente nos informou, sem nos dar a oportunidade sequer de dialogar, que iam reduzir o número de pessoas dentro da linha de produção, porque foi colocada uma esteira transportadora de caixas.
Apesar de a esteira só transportar caixas e não fazer o trabalho de empacotamento, desempenhando pelas trabalhadoras, a empresa nos disse que reduzirá em 50 por cento a mão de obra, ficando o pessoal restante responsável também por essas tarefas.
-O que provocará uma sobrecarga importante...
-Exatamente. Para que se entenda bem de que tipo de sobrecarga estamos falando, estas pessoas empacam 55 caixas por minuto, mas com essa medida terão que empacar 200.
Decidimos levar a questão para uma assembleia, visando a debater em profundidade a questão e trabalhamos um dia inteiro com uma camiseta que dizia “Não à exploração do trabalho”.
-Quantas trabalhadoras e trabalhadores participaram?
-Umas 678 personas.
-O que a empresa fez?
-No início, houve algumas ameaças. Depois, enviamos a nossa pauta de reivindicações. Uma das exigências era a empresa não voltar a considerar a possibilidade de implementar essa pretendida medida.
Também tocamos na questão da terceirização, porque a empresa quer deixar de trabalhar com pessoal terceirizado, aproximadamente 116 pessoas, mas quer também que essa carga de trabalho seja feita pelo pessoal permanente.
Ou seja, querem sobrecarregar de trabalho os trabalhadores com carteira assinada. Desde 2015, não há novas contratações.
Nós pedimos que sejam feitas novas contratações para cobrir estes postos de trabalho com mais trabalhadores com carteira assinada.
-Como esta situação se arrasta faz tempo, já há companheiras que sofrem dores permanentes, ingerindo todo tipo de analgésicos para suportar a dor. Se não houver mudanças, o cenário tende a ser pior.
-Isso mesmo. Já deixamos claro para a empresa que, se continuarem com esta política, o único que vão gerar é a cada dia mais e mais companheiras com dores causadas pelas LER.
Eles argumentam que as pessoas não estão adoecendo pelo trabalho, mas nós sabemos que é a sobrecarga de movimentos repetitivos o que está gerando tantas doenças.