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Com Wagner do Nascimento Rodrigues

“Situação bastante preocupante na BRF”

Wagner do Nascimento é dirigente da Federação de Trabalhadores da Alimentação do Paraná (FTIAPR) e presidente do Sindicato de trabalhadores dessa indústria no município de Carambeí (Sintac). Nesta matéria, fala sobre a crise que a indústria nacional do setor das carnes, em particular a da empresa BRF, e sobre as medidas paliativas promovidas pelo sindicato.

-Como você analisa a atual situação da BRF?
-Foi tomada uma série de medidas que sabotam a indústria da alimentação em geral.

Sobre as questões sanitárias que transparecem com a operação “Carne Fraca”, e que são o motivo pelo qual as exportações da BRF estão suspendidas, de fato não há más condições aqui no Brasil.

Há uns anos tive a oportunidade de visitar um frigorífico da empresa Swift, depois que a JBS adquiriu a unidade de Nebraska, Estados Unidos, e lá pude ver que as condições de salubridade não são más, são de fato péssimas! Comparativamente, aqui as condições são muito boas ou mesmo ótimas.

Por outro lado, existe uma guerra comercial tentando nocautear aquelas empresas que podem vir a se transformar em grandes rivais dentro do mercado.

Além da má administração da empresa, a situação de crise vivida pela BRF tem principalmente um fundo político, muito vinculado aos casos de corrupção envolvendo a alta hierarquia e os empresários do setor, amplamente divulgados pela grande mídia, alinhados com o establishment.

Prejuízos incalculáveis
Incerteza devido ao efeito dominó

-De que forma a operação “Carne Fraca” afetou as unidades da empresa?
-Em Carambeí, 100 por cento da produção da BRF é destinada ao mercado europeu.

Portanto, ao não exportar mais para a Europa, a empresa sofre prejuízos incalculáveis, porque esta decisão não afeta só os frigoríficos, mas toda a cadeia produtiva.

Por agora, em nossa região não houve demissões em massa, mas sim férias coletivas, que começam no mês que vem, e existe uma grande incerteza sobre o que acontecerá uma vez que as mesmas terminem.

-O que você opina sobre a gestão administrativa da BRF?
-A operação “Carne Fraca” foi a gota d’água, mas a crise da BRF vem de antes, de uma péssima administração.

Desde que o Abílio Diniz assumiu a presidência do Conselho Diretivo foram tomadas péssimas medidas para a empresa, repercutindo obviamente nas costas dos trabalhadores e das trabalhadoras.

Um dos graves erros da administração Diniz foi uma clara política de enfrentamento com os sindicatos representantes dos operários/as do setor.

A partir de 2015 tivemos grande problemas para negociar condições de trabalho com a BRF.

Erros de gestão
“Não temos que pagar por erros alheios a nós”

Além disso, a BRF apostou e perdeu em vários setores, desde a aquisição de novos produtos até deixarem ir os seus melhores executivos, cooptados posteriormente pela concorrência (JBS); e por terem contratado pessoal não idôneo para administrar a empresa.

Foram erros em demasia, e hoje estamos nós trabalhadores pagando esse pato.

-Que medidas os sindicatos estão tomando para paliar de alguma maneira esta situação?
-Recorremos aos fundos de pensão que a maioria dos acionistas da empresa detém, Petros e Previ, para articular primeiramente a destituição de Diniz e de sua equipe da presidência do grupo.

Também desenvolvemos um trabalho de informação permanente entre os trabalhadores e as trabalhadoras da empresa para que não entrem em pânico.

Não somos os responsáveis pelo fato de a BRF ter chegado a este ponto.

Estamos trabalhando com as bases sindicais para dizer a todos que se mudamos o rumo da empresa agora, conseguiremos que as coisas melhorem e sairemos desta, tenho absoluta certeza disso.


Foto:Sintac