Com Emilio Borlinque
O secretário da Associação de Trabalhadores e Empregados do Frigorífico Tacuarembó (A.O.E.FRI.T), propriedade da multinacional brasileira Marfrig, detalhou à Rel a situação que resultou em um conflito que, a cada dia que passa, se torna mais complexo.
Daniel García
20 | 2 | 2024
Foto: A.O.E.FRI.T
Em 2021, o grupo Marfrig anunciou um investimento de mais de 54 milhões de dólares no Frigorífico Tacuarembó, uma das suas cinco unidades presentes no Uruguai até o momento. O investimento visa a expansão da capacidade de abate e armazenamento, bem como o aprimoramento do processo produtivo industrial dentro de cada unidade.
Um ano após o investimento, o sindicato foi solicitado para realizar um teste de aumento no ritmo de trabalho. Os trabalhadores concordaram, uma vez que a empresa se comprometeu a contratar mais pessoal para não sobrecarregar ainda mais os operários.
Vale lembrar que no ano passado, a sua maior concorrente, também brasileira, a Minerva Foods, adquiriu três unidades de abate da Marfrig: La Caballada em Salto, Inaler em San José e Establecimientos Colonia, em Colônia.
A operação, que causou grande agitação entre os diferentes atores da cadeia produtiva da carne bovina, ainda está em estudo pela Comissão de Promoção e Defesa da Concorrência do Uruguai (CPDC), e estima-se que só em maio deste ano haverá um parecer sobre o caso.
Desde outubro do ano passado, a A.O.E.FRI.T começou a abordar a questão das férias e a necessidade de capacitar trabalhadores para a área de produção. A administração permaneceu firme, indicando que poderiam conceder férias a partir de julho ou agosto, o que implicaria 20 meses de trabalho contínuo, sem descanso. Essa situação levou o sindicato a se declarar em assembleia permanente na última segunda-feira (12), além de manter o trabalho alinhado ao regulamento, medida que está em vigor desde a última sexta-feira, 09 de fevereiro.
“Quando o setor de abate começou com as medidas necessárias, a empresa contratou 18 pessoas —o sindicato propôs não menos que 30— uma quantidade, aliás, insuficiente para a demanda de trabalho, pois há 80 trabalhadores do setor produtivo afastados por motivo de licença médica. Dos 18 trabalhadores contratados, apenas 10 foram destinados ao abate”.
“A Marfrig forneceu trabalhadores sem experiência, o que acabou sobrecarregando aqueles que conhecem a tarefa. Além disso, a situação foi se agravando devido à quantidade de companheiros com licença médica devido ao ritmo acelerado do trabalho”;, explicou Borlinque.
“Na última sexta-feira, o sindicato decidiu começar a trabalhar de acordo com o regulamento, isto é, reduziram o ritmo de abate de 135 a 80 animais por hora, além de não realizarem nenhuma tarefa além de suas funções. Com essa medida de luta, passaram a abater 500 animais por dia, enquanto antes abatiam 900”.
Na indústria frigorífica em geral, persistem os casos de acidentes e doenças ocupacionais. Obviamente, o Uruguai não foge à regra.
Em uma recente pesquisa sobre esse assunto, realizada pela Rel UITA, percebeu-se que casos graves e irreversíveis estão sendo identificados em trabalhadores cada vez mais jovens.
Conforme afirmaram os dirigentes sindicais, há casos de trabalhadores com 30 anos, ou até menos, que, com pouco tempo de trabalho no abate, já precisam solicitar licença médica.
“No setor de abate, por exemplo, de 180 colegas, 40 estão com licença médica, na desossa também são 40. Aliás, quase diariamente surge algum caso novo”, explicou Borlinque.
Em resposta à medida de força, a empresa começou a implementar modificações na jornada de trabalho com o objetivo de minimizar a ação sindical.
“Hoje, sexta-feira, a empresa trouxe apenas 200 animais, e não fomos convocados para trabalhar no sábado”, explicou o dirigente.
A administração entrou em contato com o sindicato e afirmou que, mesmo se a medida de luta fosse suspensa, não haveria diálogo direto. Eles informaram que a reunião será no Ministério do Trabalho e convocaram os representantes sindicais para a Direção Nacional do Trabalho do Uruguai (DINATRA), na próxima terça-feira, dia 20.