Brasil | 8M | EDITORIAL
Retrato atual da mulher brasileira
Imagine o nascimento de dois irmãos gêmeos, oriundos de uma família brasileira. Certamente, traçarão trajetórias diferentes ao longo da vida, mas logo de saída teremos uma certeza: um terá o salário 20% menor que o outro. Qual a razão? Um deles é mulher.
Artur Bueno Júnior
08 | 03 | 2022
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Neste dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, uma pesquisa do IBGE mostrou que, em 2021, a diferença salarial entre os gêneros seguia em 20,5%, quando se comparava trabalhadores do mesmo perfil de escolaridade e idade, e na mesma categoria de ocupação. Pior que isto, esta diferença aumentou desde o ano anterior – em 2020, era de 19,7%.E o salário menor ocorre mesmo com maior escolaridade. No 4º trimestre do ano passado, as mulheres ocupadas tinham em média 10,2 anos de estudo e os homens, 9,8 anos.
Além do salário mais baixo, elas também sofrem mais com o desemprego. Dos 12 milhões de brasileiros desempregados, 6,5 milhões são mulheres, ainda segundo o IBGE. A taxa de desocupação dos homens ficou em 9% no final de 2021, enquanto que a das mulheres foi de 13,9%.
Como em pesquisas anteriores, observa-se a defasagem muito maior com relação às mulheres negras. Mas hoje vamos nos ater ao recorte de gênero – neste dia 8 de Março, devemos parabenizar as mulheres pelo seu dia, mas também reconhecer a percepção de que a sociedade – e o mundo do trabalho – ainda precisam de atenção à necessidade de mudanças.
Saindo da questão econômica, salta aos olhos a persistência dos altos índices de violência contra a mulher, malgrado o avanço dos grupos representativos e das políticas públicas.
Em 2021, o Brasil registrou um estupro a cada 10 minutos e um feminicídio a cada 7 horas, segundo levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Homens que recusam a separação parecem estar no topo da lista dos homicidas e agressores, remetendo a um contexto onde a mulher lhes pertence como um objeto.
Até pouco tempo atrás, o crime em “legítima defesa da honra”, que justificava homicídios após “ofensa à dignidade masculina”, ainda persistia aliviando a punição de companheiros ou ex-companheiros, no ordenamento jurídico brasileiro.
E se o quadro parecia melhor nas redes sociais, na política e na mídia, o episódio “Mamãe Falei” veio mostrar que ainda falta muito. Às vésperas de mais um 8 de março, o deputado estadual Arthur do Val foi à Ucrânia numa viagem de suposto apoio contra a guerra, ação espetacular de salvamento de refugiados que seria compartilhada de forma viral nas redes.
Em áudio, revelou uma intenção de turismo sexual, ainda mais reprovável por se aproveitar da fragilidade das mulheres ucranianas refugiadas.
Resumo da ópera: segue sendo importante a luta das mulheres por igualdade, em uma sociedade ainda tão desigual. Os avanços conquistados por elas precisam ser valorizados e defendidos, ampliados ano a ano, pois há muito ainda por fazer.
Uma sociedade que as trata assim, ainda é uma sociedade com sérios problemas a resolver.