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Relato sobre a luta na AmBev desde o início da pandemia

Joaquim Boca*, diretor do Sindicato de Trabalhadores de São José dos Campos faz um resumo da queda de braço entre o Sindicato e a gigante da cerveja AB InBev na fábrica de Jacareí no estado de São Paulo. A Rel reproduz a seguir o relato completo.
Imagem: Allan McDonald | Rel UITA

Em março de 2020 o Sindicato da Alimentação de São José dos Campos deu entrada com pedido de mediação no Ministério Público do Trabalho solicitando isolamento vertical e horizontal na AmBev.

Fruto desta mediação sai um acordo de redução de jornada que durou menos de 2 meses.

Em seguida o Sindicato faz nova representação questionando o fato de os trabalhadores do grupo de riscos continuarem nas línhas de produção, deste questionamento é feito um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) o qual garantia que todas e todos do grupo de riscos fossem afastados com seus vencimentos e benefícios garantidos, isto originou o afastamento de mais de 130 trabalhadores.

Neste período ocorreu a nossa data base, e no elenco de reivindicações estava incluída uma proposta de protocolo a se cumprir na fábrica.

Apesar da empresa não atender nosso pleito por inteiro incorporou várias de nossas reivindicações do protocolo a sua política interna de prevenção à covid.

Passado este período a empresa, por decisão unilateral resolveu retornar parte dos trabalhadores do grupo de risco para fábrica, neste mesmo período houveram vários casos de contaminação na companhia.

O sindicato voltou a informar o MPT sobre os riscos do retorno destes trabalhadores as suas condições laborais, e o ministério solicitou o afastamento deste contingente de 78 trabalhadores e trabalhadoras.

Neste período começou um boato na fábrica de que os trabalhadores do grupo de riscos seriam demitidos, mais uma vez depois de várias reuniões com a empresa conseguimos um termo de compromisso que nenhum destes trabalhadores seriam discriminados.

De março para cá o número de trabalhadores infectados testados positivos pela covid na fábrica aumentou consideravelmente e então apresentamos uma pauta na qual solicitávamos adequação no protocolo interno e também que fosse realizado um distanciamento horizontal na unidade.

A Ambev apesar de ter dado uma resposta sobre uma adequação no protocolo negou o distanciamento horizontal.

Durante abril e maio a situação se complicou, o número de contaminados quase que dobrou, só no mês de maio tivemos mais de 30 casos testados positivos e agora no mês de junho se agravou com vários internados em UTI e duas mortes.

Foi aqui que mais uma vez solicitamos uma reunião com a companhia e apresentamos uma pauta reivindicando o número exato de contaminados na planta, já que segundo informações extraoficiais do início da pandemia até agora tivemos só de trabalhadores próprios 160 testados positivos ao covid na fábrica.

Solicitamos também testagem em massa de todos os trabalhadores da planta, inclusive os terceirizados, e suspensão da produção por quanto perdurasse esta testagem, também concessão de CAT e ampliação da rede hospitalar.

A empresa demorou quase 15 dias para nos dar um retorno sobre isto e depois da morte do primeiro trabalhador. Só depois de irmos à imprensa denunciando esta falta de atenção da empresa, eles nos atenderam sendo realizada uma reunião com a gerencia local e de relações sindicais onde concordaram em fazer a testagem em massa.

Neste período foram dezenas de boletins informativos, dezenas de discussões com a gerencia local e por último um ato de solidariedade aos falecidos e a reafirmação para todos os trabalhadores e trabalhadoras que nossa luta vai continuar por suspensão da produção por 15 dias, em busca que a AmBev responda às nossas reivindicações: CAT para todos os trabalhadores que testaram positivo e ampliação da rede hospitalar para aumentar a rede de leitos na UTI.


*Diretor Sindical na AmBev de Jacareí