Assassinar jornalistas, uma prática habitual do governo de Israel
No momento em que prepara uma invasão à Cidade de Gaza que promete ser particularmente sangrenta, Israel continua assassinando jornalistas para impedir que se mostre o que está acontecendo em terras palestinas.
Daniel Gatti
28 | 8 | 2025

Imagem: Allan Mc Donald`s – Rel UITA
O último episódio ocorreu no fim de semana passado, quando outros seis repórteres foram assassinados durante o ataque ao hospital Naser, um dos poucos que ainda estão relativamente de pé no enclave.
Os repórteres foram metralhados enquanto tentavam ajudar os feridos pelo bombardeio e documentar o ocorrido.
Esse método de matar duas vezes —primeiro atacando um alvo e depois aqueles que vão socorrer as vítimas— é conhecido como “golpe duplo”.
Como sempre acontece quando ocorre um massacre impossível de disfarçar, Israel pediu “desculpas” pelo “erro”, como se fosse um episódio isolado e infeliz.
Mas não era, por três razões: porque os hospitais, assim como o restante das infraestruturas civis (postos de saúde, escolas, universidades, todos os tipos de moradias e edifícios), são alvos frequentes de suas operações; porque os jornalistas também são; e porque o método do golpe duplo faz parte das práticas habituais das Forças de Defesa de Israel (FDI).
Alguns países ocidentais que até agora deram apoio militar e propagandístico a Israel e que, diante da dimensão do massacre, começam a tomar certa distância, pediram “uma investigação independente”, também fingindo que se trata de algo excepcional.
Uma semana antes, as FDI haviam massacrado outros seis jornalistas, bombardeando com drones a tenda onde estavam: quatro eram da rede catariana Al Jazeera e dois trabalhavam de forma independente.
Não houve erro de cálculo nem engano quanto ao alvo: o objetivo eram eles, assimilados por Israel a “terroristas a serviço do Hamas”.
Segundo o Escritório de Imprensa do governo de Gaza, já são 246 os repórteres assassinados pelo exército da potência colonial desde outubro de 2023.
Nunca houve tantos jornalistas mortos em um conflito ou guerra em qualquer país, nem mesmo somando as duas guerras mundiais e as do Vietnã, Iraque e Afeganistão.
A quase totalidade dos assassinados são palestinos, pois Israel fechou completamente Gaza à imprensa estrangeira desde o início de sua “ofensiva”, há 22 meses.
Um dos jornalistas da Al Jazeera assassinados, Anas Al Sharif, de 28 anos, era conhecido como “A voz de Gaza”, por sua rotina de circular pela Faixa para informar e mostrar o horror.
Nos seus últimos dias, além de documentar a destruição cotidiana, registrava a fome que assola sua terra devido ao bloqueio israelense à entrada de alimentos e água.
Em uma publicação muito recente em suas redes sociais, o próprio jornalista advertiu que poderia ser assassinado a qualquer momento.
Em dezembro de 2023, em um ataque anterior a uma de suas casas (como todos os gazenses, era forçado a mudar de residência conforme os bombardeios avançavam), seu pai foi assassinado.
“Se estas palavras chegarem até vocês, saibam que Israel conseguiu me assassinar e silenciar minha voz”, escreveu em uma espécie de testamento.
“Vivi a dor em todos os seus detalhes, provei o sofrimento e a perda muitas vezes, mas nunca hesitei em transmitir a verdade como ela é, sem distorções nem falsificações”, contou em outra mensagem publicada em suas redes sociais.
Al Sharif se preparava para se deslocar à Cidade de Gaza, cuja ocupação total está sendo preparada pelo governo de Israel como parte de seu plano de médio prazo de esvaziar toda a Faixa de Gaza dos palestinos.
As condenações à ação genocida do governo de Benjamin Netanyahu agora incluem até alguns de seus aliados.
Mas ninguém faz nada efetivo para parar o massacre. Já são quase 62 mil assassinados, e o mundo continua permitindo que aconteça.