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10 de outubro: Dia Nacional de Luta Contra a Violência à Mulher

Quando o grito coletivo ainda é resistência

Amalia Antúnez

10 | 10 | 2025


Imagem: Carton Club

Nesta data simbólica, o Brasil relembra um marco de resistência: o Dia Nacional de Luta Contra a Violência à Mulher, que ecoa desde 1980, quando milhares de mulheres tomaram as ruas do país para exigir o mais básico dos direitos — o de viver.

Mais de quatro décadas depois, o grito coletivo ainda é necessário. E urgente.

Segundo dados recentes, quase 200 mulheres são estupradas por dia no Brasil. Dentre as vítimas, duas em cada três são mulheres negras. Esses números revelam mais do que estatísticas frias —são histórias interrompidas, sonhos silenciados e vidas ceifadas pela violência de gênero, racial e social.

Mas a violência contra a mulher vai além da agressão física. Ela é estrutural, alimentada por um sistema que legitima o machismo, perpetua o racismo e sustenta desigualdades históricas. E se manifesta também de formas mais silenciosas— mas igualmente cruéis.

Violências invisíveis: jornada tripla e brecha salarial

A sobrecarga das mulheres, especialmente das mães, é uma das formas de violência mais normalizadas.

A chamada jornada tripla —trabalho remunerado, tarefas domésticas e cuidado com filhos ou familiares— recai majoritariamente sobre as mulheres, sem reconhecimento ou redistribuição. Elas trabalham mais horas, com mais responsabilidades, e quase sempre com menos apoio.

E como se isso não bastasse, a brecha salarial de gênero permanece como uma chaga aberta no mercado de trabalho. Mesmo exercendo as mesmas funções, mulheres ganham, em média, 22% menos que os homens.

Quando se trata de mulheres negras, o abismo é ainda maior. A desigualdade econômica limita sua autonomia, compromete sua liberdade e reforça ciclos de dependência — uma das principais barreiras para romper relações abusivas.

Essas formas de violência, embora não deixem hematomas visíveis, corroem a dignidade, a saúde mental e a qualidade de vida das mulheres. São violências cotidianas, silenciosas, e muitas vezes naturalizadas pela sociedade e ignoradas pelo Estado.

Luta coletiva e permanente

A violência de gênero não é uma questão individual, mas coletiva e política. Ela exige ações concretas, políticas públicas eficazes, investimento em educação de gênero e compromisso com a equidade. A omissão, por sua vez, mata.

Neste Dia Nacional de Luta Contra a Violência à Mulher, reafirmamos: nenhuma mulher deve ser mártir para ser ouvida. Lutamos por nós, pelas que vieram antes e pelas que ainda virão.

Que esse grito não seja apenas um eco do passado, mas uma convocação permanente à mudança.

E nessa luta, o movimento sindical deve ter um papel fundamental — combatendo desigualdades no mundo do trabalho, promovendo ambientes seguros e pressionando por políticas que enfrentem a violência de gênero em todas as suas formas. Porque defender os direitos das mulheres é também defender justiça social para todos.