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A vitória de Donald Trump

Paradoxos de um pesadelo

"Vem aí um pesadelo", dizem membros do Espaço Migrante de Tijuana, localizado a poucos quilômetros da fronteira entre o México e os
Estados Unidos.

Daniel Gatti

18 | 11 | 2024


Imagem: Allan McDonald – Rel UITA

Eles se referem à vitória de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos, na terça-feira, dia 5.

A associação reúne pessoas que fogem da violência, dos maus-tratos (todos os tipos de maus-tratos) e da extrema pobreza, e que buscam encontrar "uma nova vida" do outro lado do muro.

A maioria são centro-americanos e mexicanos, ou seja, esses "hispânicos" que também formam a base dos "indocumentados" que já atravessaram a fronteira.

Trump não teve uma maioria global entre os "hispânicos" já estabelecidos nos Estados Unidos, mas o apoio entre eles cresceu enormemente, e ele venceu entre os homens dessas comunidades, especialmente os mais velhos.

Até mesmo mexicanos e centro-americanos sem documentos que vivem na grande potência do norte há anos disseram que, se pudessem votar, o teriam feito pelo magnata republicano.

E isso apesar de Trump ter prometido expulsá-los a socos, deportá-los como ratazanas e em bandos assim que assumisse o governo, em janeiro próximo, e não ter cansado de falar dos migrantes indocumentados em geral e dos latinos, em particular, como criminosos, estupradores, assassinos.

"Como se explica que nossos irmãos prefiram um sujeito como Trump, que vai nos tirar a única esperança que nos resta, que é poder escapar da miséria e da violência que encontramos em nossos países?", perguntam-se no Espaço Migrante de Tijuana.

A maioria dos trabalhadores das regiões desindustrializadas dos Estados Unidos e os mais pobres também votaram no multimilionário.

A força da ilusão

O republicano soube vender-lhes todo tipo de distrações e também uma promessa de nova grandeza, tanto individual quanto nacional, embora suas políticas busquem essencialmente favorecer os mais poderosos entre os poderosos, como Elon Musk, o homem mais rico do mundo, dono de empresas nas quais sobre explora seus trabalhadores, sendo uma peça-chave na estratégia eleitoral do candidato vencedor.

Javier Milei na Argentina, Jair Bolsonaro no Brasil e tantos outros se valeram de receitas semelhantes. Devemos nos perguntar por que souberam captar votos e iludir tantas pessoas que "objetivamente" deveriam mais desprezá-los do que apoiá-los, mais combatê-los do que defendê-los.

E nos perguntarmos, o que fez com que os progressismos, que inicialmente estavam do outro lado, se tornassem material descartável para esses setores populares.