Cresce em lucros e subsídios, mas derrama pobreza
Casualidade ou causalidade? Em 11 dos 12 municípios brasileiros onde a JBS, uma das maiores empresas de alimentação do mundo, possui unidades de produção, houve um aumento da pobreza na última década.
Daniel Gatti
15 | 4 | 2024
Foto: Gerardo Iglesias
Os dados surgem de uma pesquisa com um título bastante ilustrativo, “Alimentando a desigualdade: Os custos ocultos do monopólio industrial da carne”, elaborada pela socióloga Raísa Pina, da UnB - Universidade de Brasília.
Casualidade ou causalidade? Em 11 dos 12 municípios brasileiros onde a JBS, uma das maiores empresas de alimentação do mundo, possui unidades de produção, houve um aumento da pobreza na última década.
“A ideia foi trazer à luz o paradoxo de, por um lado, haver uma das maiores empresas de alimentação, cujo slogan é 'Alimentando o mundo', e por outro, um aumento da fome”, disse Pina, que também é pesquisadora visitante do King's College de Londres e do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Oxford, ambos da Grã Bretanha.
A JBS é a maior empresa processadora de carne do planeta e uma das principais do setor da alimentação do mundo.
Seus rendimentos cresceram 303 por cento em uma década, contando com o apoio considerável do Estado brasileiro: 20,8 por cento de seu capital é controlado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que entre 2013 e 2023 contribuiu com cerca de 31 bilhões de reais (aproximadamente 7 bilhões de dólares).
No entanto, esse poderio não se traduz em benefícios para seus funcionários e nem mesmo para as comunidades locais, onde a JBS se instala.
Mais de 100.000 dos seus 151.000 trabalhadores ganham apenas um pouco mais do que um salário mínimo, e grande parte dos habitantes das cidades onde a fábrica está instalada recebem Bolsa Família.
No município de Goiânia, capital do estado de Goiás, o número de inscritos no Bolsa Família aumentou 162 por cento em uma década, de acordo com dados oficiais. Campo Grande, Andradina e Barra do Garças, outras três das 12 cidades onde a JBS possui frigoríficos, estão logo abaixo.
É preciso questionar, concluiu Pina em declarações à premiada agência de jornalismo Agência Pública, “se seria justificável investir uma quantia tão significativa de dinheiro público em uma grande corporação que não traduz isso em um retorno social”.
Ela deixou a bola quicando, mas a resposta parece óbvia.