melhores que Milei
Diz um ditado, atribuído a Confúcio, que “conselhos são bons, mas exemplos arrastam”.
Artur Bueno Junior
14 | 11 | 2023
Artur Bueno Junior | Foto: Gerardo Iglesias
Que boa parte dos argentinos e argentinas se deixem levar pelo histrionismo, o show de horrores, a maluquice e a falta de noção de um candidato clownesco como Javier Milei, sem dar ouvidos a pessoas que acionaram alertas de precipício iminente para o país caso ele vença, tudo bem – se conselho fosse bom, não seria de graça.
O problema é que já vimos esse tipo de coisa acontecer, de um fanfarrão excêntrico e descolado da realidade vencer eleições e estar no comando de uma nação sem a mínima noção do que isso significa e do mal que pode causar.
Vimos várias vezes, ao longo da história da humanidade, em diversas dimensões, líderes loucos, Neros e Calígulas, Mussolini e Hitler, que deviam servir de exemplos para a escolha de candidatos.
No caso da Argentina, temos aqui mesmo, no Brasil, país vizinho, o melhor exemplo, recente, do desastre que é colocar na direção do país alguém incapaz, insano, desumano – aqui tivemos Bolsonaro e, argentinos, não desejamos nada parecido a vocês.
Assim como Javier Milei, Jair Bolsonaro apareceu em programas de TVs falando bobagens, causando impactos, chamando a atenção. Não sustentava discurso coerente sobre nada e, por isso, apelava para frases de impacto.
Nesse sentido, talvez Milei vá ainda mais longe com os cabelos cuidadosamente desarrumados para chamar a atenção, com toda aquela oblação sobre cães clonados e gladiadores romanos e um falatório que só tem a função de desviar a atenção do eleitor para o crucial: é preciso ciência, técnica, conhecimento, vontade e articulação política e diplomacia internacional para tirar a Argentina do buraco em que entrou.
E a extrema-direita parece odiar a ciência e a diplomacia. Bolsonaro presidente, durante a pandemia, criticou e desestimulou a vacinação, sendo o responsável direto por milhares de mortes.
O governo Bolsonaro passou vergonhas internacionais com discursos anticiência, chegando ao cúmulo de contar com ministros terraplanistas. O próprio Bolsonaro provocou uma cisma com a França ao chamar a esposa do presidente Emmanuel Macron de feia – no que foi referendado, incrivelmente, pelo ministro da Economia de então, Paulo Guedes.
A falta de diplomacia e de entendimento da importância do bom relacionamento entre líderes de nações colocou o Brasil de escanteio na política internacional: o governo mandou embora médicos cubanos; recusou dinheiro de fundos internacionais para a Amazônia; recusou oxigênio oferecido pela Venezuela para doentes de Covid durante a pandemia, gerando ainda mais mortos; enfim, uma série de medidas que jamais poderiam ser tomadas em um governo sério.
Como se não bastasse, o governo Bolsonaro, de extrema-direita, acabou com as políticas culturais e de proteção ao trabalhador brasileiro; políticas que vinham sendo construídas ao longo dos últimos vinte anos. Incentivou o armamento da população, precarizou a educação (o governo teve cinco ministros da Educação em quatro anos), cortou projetos sociais, gerou um quadro social de retrocesso de décadas em todas as áreas, lamentavelmente.
Bem, toquei em apenas em alguns pontos nevrálgicos, mas muito ainda poderia ser dito. Milei está no mesmo caminho, pelo que vemos.
Não há conselhos a dar aos argentinos que vão às urnas no dia 19, mas o exemplo está aí. Algumas pessoas devem ficar no lugar em que melhor são aceitas e palhaços televisivos devem continuar ali, no circo eletrônico.
Força, Argentina!