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28 de abril: Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho

ObAgro entra em cena

Informação e pesquisas para proteger vidas

Gerardo Iglesias

6 | 5 | 2025


Foto: Gerardo Iglesias

Nas últimas semanas, o Observatório de Saúde e Trabalho no Agronegócio (ObAgro) tem demonstrado seu poder de fogo na denúncia, informação e pesquisas voltadas à proteção da vida, da segurança e da saúde no trabalho.

Na metade do século passado, começaram a se intensificar os processos de reformas ultraliberais em escala global. Em outras palavras: ninguém escapou. O paradigma emergente virou o jogo, priorizando os interesses do setor privado acima do interesse público. O lucro das corporações dominantes ─com vocação oligopólica─ foi colocado acima das necessidades básicas das pessoas, transformando-se na rota a ser seguida sem limite de velocidade.

De forma explícita, o foco passou a ser a proteção do bem-estar das transnacionais e a prosperidade do sistema financeiro, ainda que isso significasse sacrificar milhões de pessoas no matadouro universal neoliberal.

Ao mesmo tempo, promoveu-se a ideia de que o mundo entraria em tempos melhores tratando bem o capital, deixando-o agir livremente, permitindo seu total livre arbítrio, sem importar as consequências. Algo como dizer: “Se aumentarmos o número de bilionários na lista da Forbes, o povo estará melhor”.

O Estado, o inimigo

Nos anos 70 e 80, o Estado foi o alvo preferencial do sabá neoliberal, sendo estigmatizado como o principal inimigo do desenvolvimento econômico e promotor da desigualdade social. O poder de fogo da artilharia midiática foi, literalmente, devastador. Sua persistente eloquência penetrou fundo em amplos setores da sociedade que apoiaram ─com entusiasmo─ a ideia de retirar o Estado da esfera produtiva e dos serviços públicos. As consequências: privatização selvagem das empresas e dos serviços públicos, provocando um tsunami de demissões, precarização do trabalho e perda de soberania. Como uma antítese ao “Caminho de Santiago”, símbolo de esperança e compaixão, hoje assistimos na Argentina ao “Caminho de Milei”, essência do ultraliberalismo.

A tirania neoliberal ─proativa, dinâmica─ arquitetou uma nova frente, uma nova arremetida, demolindo o Estado como ente regulador. Em suas mãos, o Estado não interferirá, é claro, exceto para favorecer o lucro máximo com o mínimo de investimento empresarial.

“Trabalhar mais e mais se traduz, objetivamente, em maiores lucros que, devido à fraqueza e fragmentação das forças sociais do trabalho, são apropriados por segmentos específicos do capitalismo” (Christophe Dejours).


Ilustração: Cartonclub
A uberização do trabalho

A partir do sofisma “a competitividade obriga…”, “a competitividade não permite…”, como aponta Viviane Forrester, a voz de comando impôs a eliminação de toda norma e interferência política que atrapalhasse o crescimento frenético das transnacionais.

No Brasil, a máquina devastadora de Jair Bolsonaro e sua trupe implementaram sua “cruzada neoliberal” com amplo apoio popular, fruto em boa parte do poder das redes sociais em induzir uma neurose distópica sem precedentes.

Bolsonaro impulsionou o trabalho sem direitos, os salários sem poder de compra, e transferiu a culpa dos acidentes laborais persistentes, ao trabalhador. Em sua campanha eleitoral à Presidência da República (2022), um dos pontos fortes foi destacar que havia desmantelado a grande maioria das Normas Regulamentadoras de Saúde e Condições de Trabalho.

O lamentável é que foram milhões os trabalhadores e trabalhadoras que votaram no ex-capitão do exército, evidenciando que sua administração agravou tanto a exploração do trabalho quanto a alienação do trabalhador.

ObAgro

Neste contexto confuso e complexo, buscamos contribuir para colocar no radar público as doenças ocupacionais, as condições degradantes de trabalho e a gestão empresarial baseada no sofrimento.

No Observatório, convergem organizações sindicais com um grupo interdisciplinar de pesquisadores ─com rigor técnico-científico─ dedicados ao estudo e à formação em temas relacionados ao mundo do trabalho, à proteção do meio ambiente, à promoção da saúde dos trabalhadores, coordenados pelo doutor Roberto Ruiz, médico proativo “convertido” ao sindicalismo.

A pesquisa aplicada ao cotidiano dos sindicatos ─problemáticas e desafios─ tem como objetivo respaldar o campo das negociações e implementar ações diretas que enfrentem os problemas de saúde e as condições de trabalho, bem como as ameaças ambientais num país que desmata e aplica agrotóxicos como nenhum outro no planeta.

Sofrimento no trabalho e patologias emergentes são duas faces de uma mesma moeda, intimamente ligadas às novas formas de organização do trabalho.

ObAGRO está pronto para contribuir no enfrentamento desses desafios.

Que assim seja!