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Yamandú Orsi, novo presidente eleito

"O povo unido jamais será vencido... completamente"

No domingo, 24 de novembro, o candidato à presidência pela Frente Ampla, Yamandú Orsi, venceu no segundo turno o oficialista Álvaro Delgado, herdeiro do atual presidente Luis Lacalle Pou.

Carlos Amorín

28 | 11 | 2024


Foto: Nelson Godoy

Com maioria no Senado, mas não na Câmara dos Deputados —48 em 99—, a esquerda uruguaia retorna ao governo após cinco anos nos quais uma coalizão de direita e centro-direita comandou os destinos do Uruguai.

Chegará o momento de análise e perspectivas, mas agora ainda dura a celebração, a festa, o sorriso fácil de um pouco mais da metade do país.

Razões para a festa

Dezenas de milhares de uruguaias e uruguaios foram no domingo às ruas da capital e de todas as cidades e vilarejos do interior, liberando a alegria de sentir que renasceu a esperança de que o Uruguai seja novamente um país onde predomine a cultura progressista que 15 anos de governo anterior (2005-2020) tornaram visível e solidificaram na consciência dessa grande aliança policlássica que é a Frente Ampla.

Foi muito comovente ver a própria emoção das pessoas na rua, a força com que expressaram sua alegria, felicidade e esperança em um tempo melhor.

Melhor para aqueles que viram seus salários diminuírem sob a justificativa da pandemia, melhor para os aposentados e pensionistas cujas remunerações caíram, especialmente as mais básicas, melhor para as milhares de crianças em situação de pobreza, melhor para as vítimas da violência criminal e do narcotráfico, melhor para as mulheres discriminadas por serem mulheres, entre outros reclamos.

De todas as idades, de todas as classes

Foi surpreendente ver, durante a noite de domingo, famílias inteiras percorrendo as avenidas com bandeiras da Frente Ampla, casais com crianças pequenas, algumas com bebês, pessoas idosas, de meia-idade e muitos, muitos jovens.

A juventude militante, a juventude adepta, ou simplesmente a que votou na esquerda, tomou as ruas e as encheu de cores, energia positiva e esperança de que o Uruguai continua sendo uma terra progressista, uma nação democrática e republicana, na qual aqueles que triunfaram celebraram com total respeito a quem foi derrotado.

Não registrei nenhum insulto, nenhuma revanche, nenhuma ameaça nas entrevistas express feitas pelos jornalistas dos diferentes canais de televisão. Era só alegria, felicidade, confiança no futuro e na confirmação da vigência dos valores progressistas sobre os liberais.

Convivência democrática: uma identidade nacional

Em seus respectivos discursos, ambos os candidatos se referiram ao outro. Ambos também expressaram que o tempo político que se aproxima, sem maioria parlamentar, será inédito na história recente.

Os dois afirmaram estar dispostos a construir laços, pontes entre as coletividades políticas que acabaram de se enfrentar, para solucionar os graves problemas que ameaçam a economia e a sociedade uruguaia.

Durante a festa de rua, predominou o desejo em relação ao futuro governo: "Que cumpram o que prometeram”.

Nova experiência política, novos rumos para o Uruguai, com o primeiro presidente originário do interior em 100 anos, filho de um pequeno comerciante, ele mesmo comerciante na juventude, professor de História no ensino médio, governador de Canelones, a província mais populosa do país depois de Montevidéu, durante dez anos, filho político do ex-presidente Pepe Mujica.

Todo o país, quem o votou e quem não o votou, acompanhará com grande expectativa os próximos passos do novo governo de esquerda, consagrado nas urnas, indo na contramão do avanço da direita e da ultradireita no Ocidente.


Foto: Nelson Godoy