Com Wagner do Nascimento
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Carambeí (SINTAC), no estado do Paraná, Wagner destacou o papel das organizações sindicais na prevenção de acidentes e doenças ocupacionais, especialmente na indústria frigorífica.
Amalia Antúnez
23 | 8 | 2024
Wagner do Nascimento | Foto: SINTAC
A reflexão surge após, no final de julho, uma planta da multinacional BRF em Carambeí ter pegado fogo, sem causar vítimas, e depois do falecimento de um trabalhador em uma unidade da mesma empresa em Embu das Artes, interior de São Paulo, na última segunda-feira.
“A atuação sindical é fundamental para prevenir acidentes e lesões ocupacionais, sobretudo porque a fiscalização do estado, tanto pelo Ministério do Trabalho e Emprego quanto pelo Ministério Público do Trabalho, só ocorre se houver uma denúncia”, explicou Wagner.
“Além disso, há um exíguo número de auditores fiscais para esse tipo de tarefa”.
Para o dirigente, os sindicatos de base são os que estão na linha de frente para garantir que as normas que regulam o setor sejam cumpridas —no caso dos frigoríficos, a NR36— e também desempenham um papel predominante na eleição dos integrantes das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (CIPAs).
“Além disso”, acrescenta, “eles têm a tarefa de exigir das empresas treinamentos em caso de fuga de amônia ou incêndio e de garantir que as condições ergonômicas sejam adequadas para prevenir lesões ou doenças ocupacionais, tão comuns nesta indústria”.
O último estudo realizado pelo Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho (SmartLab), uma iniciativa do Ministério Público do Trabalho e da OIT, indica que, em apenas um ano, foram registrados no Brasil quase 613.000 acidentes de trabalho, com 2.538 mortes.
Segundo dados da OIT (2023), quase 3 milhões de pessoas morrem por acidentes e doenças relacionadas ao trabalho.
No Brasil, a taxa de mortalidade, de quase sete mortes a cada 100.000 empregos, é a maior em uma década. Vale destacar que o relatório se baseou em dados de 2022, o que pode indicar que a proporção seja ainda maior.
A indústria de abate de animais ocupa o quinto lugar em incidência de acidentes, mas sabe-se que, neste e em outros setores da produção, há um alto índice de subnotificações.
“Nosso Sindicato realiza reuniões periódicas com representantes das empresas que estão na nossa base. Exigimos que nos apresentem relatórios sobre a manutenção das caldeiras e dos sistemas de refrigeração com amônia, pois qualquer falha pode gerar uma tragédia”, sublinhou.
Um exemplo dessa atuação constante do Sindicato foi a evacuação bem-sucedida dos trabalhadores que estavam na área onde o incêndio se iniciou na unidade da BRF em Carambeí.
“Houve uma resposta rápida, e os brigadistas fecharam as válvulas do sistema de amônia, evitando assim uma tragédia maior”, destacou.
O incêndio afetou 70% da planta frigorífica, mas graças à atuação eficaz dos brigadistas, não houve vítimas.
Se, nesse caso, tudo correu bem, foi devido aos treinamentos adequados realizados previamente entre os funcionários. Isso não elimina os problemas de segurança que possam surgir, mas minimiza seu impacto”, avaliou o dirigente.
Wagner lembrou que, nessa mesma planta da BRF, o sindicato denunciou a falta de uma válvula interna de emergência nas câmaras frias, que serve para que, se acidentalmente um trabalhador ou trabalhadora ficar preso, possa abrir por dentro.
“Neste frigorífico de Carambeí, temos um protocolo chamado regra de ouro, o qual determina que, em áreas estratégicas ou de risco, as pessoas que trabalham ali devem fazê-lo em duplas e contar com uma ordem de serviço para poder atuar”.
Esses protocolos são os que o Sindicato deve garantir que sejam cumpridos, pois podem evitar acidentes fatais.
“Todo o movimento sindical deve se comprometer seriamente nessa luta em defesa dos direitos trabalhistas, que incluem um ambiente de trabalho seguro, entre outras coisas”, concluiu.