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Lançamento da campanha regional 16 Dias de Ativismo

O papel do movimento sindical na luta pela equidade

Com um webinar que contou com uma palestra ministrada pela brasileira e doutora em sociologia Luci Praun e com a participação de cerca de 60 trabalhadoras, trabalhadores e dirigentes sindicais de 10 países da região, na quinta-feira, 23, o Comitê Latino-Americano de Mulheres da UITA (CLAMU) lançou oficialmente a campanha regional “16 Dias de Ativismo contra a violência de gênero e pela promoção dos direitos humanos”.

Amalia Antúnez

01 | 12 | 2023


Foto: Gerardo Iglesias

O encontro começou com mensagens solidárias às companheiras e companheiros da Argentina que enfrentam a vitória nas eleições presidenciais do ultradireitista Javier Milei e tudo o que isso implicará em termos econômicos, sociais e políticos.

O comovente pronunciamento de Gabriela Visca, da Federação Argentina de Trabalhadores de Águas Gaseificadas (FATAGA), levou Praun, antes de iniciar sua palestra, a abordar a urgência de reformular as ações sindicais para compreender o que está acontecendo na sociedade, especialmente com a juventude, a fim de evitar que figuras como Jair Bolsonaro e Milei alcancem o poder por meio do voto.

O que acontece com os jovens

“Nossa geração sabe dos direitos, conhece a luta social, mas há uma imensa maioria de jovens que nasceram sem conhecer os direitos trabalhistas mínimos, e são eles que acreditam que o que temos são privilégios”, afirmou a pesquisadora brasileira.

Referindo-se nos termos de seu colega Ricardo Antunes, a socióloga acrescentou: “É o avanço da uberização do trabalho (a precarização total das relações de trabalho) o grande desafio que temos como sociedade”.

Para Praun, que foi trabalhadora metalúrgica e sindicalista, é crucial analisar o contexto que leva a esses fenômenos sociais de retorno da ultradireita no mundo e suas propostas que, entre outras coisas, visam minar os direitos trabalhistas, atacar as conquistas sociais do movimento feminista e pregar a precariedade como sinônimo de liberdade.

O papel dos sindicatos

Em sua palestra intitulada “Mundo do trabalho, lentes para conhecê-lo e ferramentas para transformá-lo”, a especialista refletiu sobre conceitos como precariedade, precarização e divisão sócio-sexo-racial do trabalho e seus subgêneros, levando os participantes a questionarem as interpretações hegemônicas sobre a vida social e o papel dos sindicatos na luta pela equidade.

“É necessário construir novas leituras, destacando tanto a diversidade quanto as relações de exploração e dominação que permeiam a vida e o mundo do trabalho, abrindo espaços para a construção coletiva de caminhos de luta e transformação social”, afirmou.

O internacionalismo, opção imprescindível

Sua apresentação introduziu os conceitos de autodefinição e espaço seguro da socióloga norte-americana Patricia Hill Collins, adaptados ao nosso contexto.

O primeiro refere-se a como poder se desvincular do que é estabelecido socialmente para mulheres e comunidade LGBTI, e o segundo, onde encontrar espaços para se expressar com liberdade.
A apresentação da pesquisadora e professora brasileira nos questionou sobre se os sindicatos são espaços seguros para as minorias: mulheres, comunidade LGBTI, afrodescendentes.

Os desafios são imensos e para lidar com o cenário social que enfrentamos, precisamos rever as formas de conectar o movimento sindical com os trabalhadores e trabalhadoras”, analisou Praun.

“Talvez devamos retornar aos espaços fora das fábricas”, disse ela, “voltar aos bairros operários, conectar-se com a comunidade e gerar ali espaços de diálogo seguros, onde, coletivamente, possamos reivindicar direitos e transformar o mundo do trabalho para melhor.”

O internacionalismo é, na minha opinião, a única forma de enfrentar os sistemas de opressão que o capitalismo continua a nos impor em pleno século XXI”, concluiu.