Honduras | DH | MEMÓRIA
Com Bertha Oliva
“O Estado deve pagar pela dívida gerada com Hermínio e sua família”
Em 29 de janeiro de 1983, Herminio Deras García, educador, assessor sindical e membro do Partido Comunista de Honduras, foi executado por integrantes do sombrio Batalhão 3-16. Nos anos seguintes ao seu assassinato, sua família sofreu perseguição, detenção ilegal, tortura, violência e exílio.
Giorgio Trucchi | Rel UITA
09 | 05 | 2022
Nos dias 10 e 11 de maio, quase 40 anos depois, o Estado de Honduras terá que responder perante a justiça internacional. A Rel UITA acompanhará o Cofadeh neste importante exercício de recuperação da memória e de luta por justiça.
“Herminio e sua família foram alvos de militares durante a implementação da doutrina de segurança nacional. Herminio sempre esteve do lado da classe trabalhadora, comprometido com a luta social e, por isso, o assassinaram”, disse Bertha Oliva, coordenadora do Cofadeh.
“Ele sempre foi coerente com seus ideais e acompanhou os processos de libertação das diferentes expressões sociais e sindicais do país. Ele nunca foi perdoado por isso. Nem ele, nem sua família", acrescentou.
A mão assassina que acabou com sua vida pertence ao militar, tenente da reserva, vinculado com o esquadrão 3-16, Marco Tulio Regalado Hernández. O militar da reserva, capturado em 1999 e condenado a 12 anos de prisão, foi libertado quatro anos depois.
Nenhum integrante da cadeia de comando foi acusado. Os mandantes permaneceram impunes. O Estado de Honduras sempre negou seu envolvimento com o caso, bem como qualquer responsabilidade.
Em 2002, parentes de Herminio Deras apresentaram uma petição à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Em 2020, a CIDH decidiu apresentar o caso perante a Corte IDH.
O Estado de Honduras deve agora responder tanto pelo assassinato do ativista quanto pelos danos diretos causados à sua família.
“Este caso é extremamente importante na busca por justiça. Por isso estamos abrindo os nossos espaços àqueles que se sentem unidos pelos mesmos ideias e objetivos, como é o caso da Rel UITA”, explicou a defensora de direitos humanos.
“A cadeia de poder fático que controla e gerencia o sistema de justiça em Honduras nunca permitiu que as vítimas fossem ouvidas, nem que os perpetradores fossem investigados e punidos. É por isso que é importante que essa história seja divulgada internacionalmente", acrescentou.
Para Bertha Oliva, é fundamental que o Estado de Honduras seja responsabilizado.
“O Estado permitiu que tudo isso acontecesse, escondeu a verdade, e ainda se negou por décadas a assumir a sua participação nos crimes contra a humanidade.
Derrubar esse sistema criminoso, promover a memória para que isso 'nunca mais' aconteça é também uma forma de 'persistir'. Foi o que fizemos com o caso Herminio e o que já fazemos há 40 anos”, alegou.
Segundo o Cofadeh, pelo menos 184 líderes populares desapareceram e centenas de outros foram assassinados pelas mãos do Exército e da Polícia, na década de 1980, por terem participado de movimentos revolucionários..
“Nosso papel vai além das lágrimas por tudo o que sofremos. Cabe a nós construir laços de solidariedade, promover a memória, exigir justiça, reivindicar o nome de Herminio e de tantos mais, tombados ou desaparecidos”, concluiu Bertha.