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Quase cinquenta anos depois, identificam corpo de “Tenorinho”

O Condor também silenciava músicos

Francisco Tenório Cerqueira Júnior era um pianista brasileiro de 33 anos que, em um infeliz dia de março de 1976, viajou a Buenos Aires para acompanhar Vinícius de Moraes em uma apresentação. Ao sair do hotel onde estava hospedado, foi sequestrado por um grupo militar e nunca mais se teve notícias dele. Até agora, quando seus restos mortais foram identificados por antropólogos forenses.

Daniel Gatti

16 | 9 | 2025


Francisco Tenorio Cerqueira Junior | Foto: Difusão

Continua-se, no entanto, sem saber exatamente o que aconteceu com Tenorinho, como era chamado, qual setor das Forças Armadas argentinas o sequestrou, qual foi o grau de participação dos militares brasileiros que atuavam em conjunto com os argentinos e com os de outros países do Cone Sul no âmbito da Operação Condor, e quais foram as causas de seu assassinato.

“É necessário que uma nova investigação seja realizada, em nome da memória, que não pode ser perdida. Esperamos que, desta vez, as autoridades possam nos dizer o que aconteceu. A dor nunca irá embora, mas a justiça pode trazer algum consolo”, afirmaram em comunicado os familiares do artista.

Durante muitos meses após aquele 18 de março de 1976, quando o pianista se tornou mais um desaparecido político, sua esposa Carmen, grávida de oito meses, e seus quatro filhos, com idades entre quatro e oito anos, seguiram esperando por ele, “pensando que um dia ele bateria à porta de casa”.

Em abril nasceu o quinto filho do casal. Tenório já havia sido assassinado, pois agora se sabe que um corpo encontrado em um terreno baldio em Don Torcuato, nos arredores de Buenos Aires —executado com vários tiros e enterrado no dia 20 de março como “não identificado” no cemitério da cidade de Benavídez— correspondia ao músico.

Antes disso, haviam circulado várias versões falsas, divulgadas pelos próprios repressores, que chegaram até a se acusar mutuamente pelo crime.

A investigação que levou à identificação foi conduzida em conjunto pela Procuradoria de Crimes contra a Humanidade (PCCH) e pela Equipe Argentina de Antropologia Forense, os organismos argentinos que desmentiram as versões divulgadas nas décadas passadas e acabaram centrando sua atenção no corpo encontrado no terreno baldio de Don Torcuato.

O caso do desaparecimento misterioso do músico brasileiro em Buenos Aires foi abordado no segundo episódio da série Enfrentando o Condor, elaborada há alguns anos pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Brasil, disponível aqui.


Família Tenorinho | Foto: Difusão