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Com Juan Carlos García Serrano
“Nossa solidariedade com a luta na Lactalis Brasil”
Nascido na França, de pais imigrantes espanhóis, Serrano é responsável pelo setor agroalimentar da federação em Castela e Leão (FICA UGTCyL, na sigla em espanhol) e trabalhador da Lactalis em Valladolid. Sua experiência como sindicalista vem desde 1997. Leitor assíduo da Rel-UITA, conhece muito bem a maneira como as organizações no Brasil vêm lutando por melhores condições salariais e de trabalho.
Gerardo Iglesias
27 | 05 | 2022
Juan Carlos García Serrano | Foto: UGT
-Você está a par do movimento que acontece na Lactalis do Brasil, em função das medidas autoritárias da empresa. Queríamos saber se isso repercute na Espanha.
-Aqui as relações de trabalho são difíceis, duras. Sempre estamos no limite alcançado no convênio estatal, que se aplica como mínimo para todas as empresas do setor. Mas devo dizer que existe diálogo.
-Imagino que, de todo modo, não acontece o que temos no Brasil, onde a empresa só aceita conceder um “aumento” salarial equivalente a 80% da inflação.
-Não. Aqui existem cláusulas de revisão salarial, mas nunca nesse formato. Os convênios duram quatro anos, e a cada ano se ajustam em função da totalidade da inflação passada.
-A Lactalis cresceu muito. Posicionou-se como o primeiro grupo do setor lácteo em nível mundial. No entanto, esse crescimento não se reflete na remuneração dos trabalhadores e trabalhadoras...
-Isso. Somos “a Mercedes do leite”, mas em nenhum país a empresa deu aumentos salariais correspondentes a essa condições.
-A reunião do setor lácteo da UITA, realizada ano passado, foi dominada pelos sindicatos da Lactalis, pelo volume de dificuldades que denunciaram. Um dos fatos ressaltados foi o antissindicalismo crescente da direção da transnacional.
-Eu me lembro. Isso depende dos países e das diferentes normativas trabalhistas, mas a empresa tem essa atitude global e aproveita os vazios existentes em nível nacional para fazer pressão.
Aqui na Europa, onde existem mais problemas é nos países do Leste, porque o sindicalismo é mais frágil.
O importante é que o emprego seja estável, de qualidade, que o salário e as condições de trabalho sejam dignos. Isso colocaria a Lactalis em outra posição no plano social.
-Falando de estabilidade no trabalho, outra coisa que caracteriza a Lactalis no Brasil é a alta rotatividade de pessoal. Os jovens que chegam pensam que as condições de trabalho serão condizentes com a posição do grupo, mas quando veem como é e quão baixos são os salários pagos, vão embora. Isso acontece na Espanha também?
-Não. Acontece no Leste Europeu, mas aqui não. É óbvio que quando alguém não encontra o que está buscando tem todo direito de ir embora, e é responsabilidade da empresa oferecer condições dignas e atraentes.
-Qual sua mensagem para os trabalhadores da Lactalis no Brasil, que vêm lutando com tanto empenho?
-Toda solidariedade com sua luta por salários e condições de trabalho dignos.
Estamos na empresa número um, e os trabalhadores e trabalhadoras devem ter remuneração compatíveis com essa posição.
É o mínimo!