Missão Rel UITA Panamá
Com Yamir Córdoba
O Sindicato Único Nacional de Trabalhadores da Industria da Construção e Similares do Panamá (SUNTRACS), está de olho no aparato repressivo do presidente José Raúl Mulino.
Gerardo Iglesias
1 | 7 | 2025

Gerardo Iglesias (Rel UITA), Alejandro Jhon (FUCLAT) e Yamir Córdoba (SUNTRACS) | Foto: Giorgio Trucchi
O Comitê Executivo da UITA reunido em Lausana, Suíça (21.22 de maio), emitiu uma resolução de urgência onde a Internacional manifestou seu apoio ao companheiro Saúl Méndez, secretário geral do SUNTRACS, que teve que exiliar-se na embaixada da Bolívia, ao mesmo tempo que estendeu sua solidariedade com a greve dos trabalhadores bananeiros de Bocas del Toro con la huelga de los trabajadores bananeros de Bocas del Toro.
Na semana passada a Missão da UITA no Panamá entrevistou Yamir Córdoba, secretário de organização do sindicato, um dirigente que se destaca pela sua firmeza ideológica e simpatia. Tandem que não se encontra facilmente no âmbito sindical.
“A situação está difícil, complicada −começa dizendo Yamir−. Temos um presidente que não dialoga, nem é sensato, senão de imposição, fechado ao diálogo com as organizações sociais. Não está disposto a sentar-se e buscar saídas ou um benefício comum com nenhuma organização. De fato, em seu discurso de posse, ele disse que seu governo seria pró-negócios, e a verdade é que ele está cumprindo essa promessa”.
“No caso do SUNTRACS −continua o dirigente− já temos cerca de 130 companheiros processados. O presidente Mulino tem utilizado o Ministério Público para perseguir tenazmente aos dirigentes e trabalhadores de base da nossa organização. É uma situação dolorosa e difícil ao mesmo tempo, porque o MP se colocou a serviço dos caprichos do presidente Mulino.
Isso é muito perigoso porque hoje a perseguição é contra o setor organizado, porém amanhã pode ser contra qualquer pessoa que saia para protestar. Um indivíduo como este nunca deveria ter pisado na presidência do país”, disse Yamir.
Na época da entrevista, a repressão estava desencadeada na região produtora de banana, e ninguém sabia o número de mortos ou feridos.
“Hoje vemos como o que aconteceu em 2010 como a repressão contra os povos indígenas em Changuinola se repete, com mais força ainda. Digo com mais força porque naquela época era ministro da Segurança, enquanto agora, como presidente, também não há gestão política da situação.
Há uma repressão severa contra um povo historicamente esquecido e explorado. Vão massacrar uma comunidade (Ngäbe Buglé) que luta em Bocas del Toro. Ele menospreza, minimiza e não demonstra interesse por essas pessoas, nem por seus mortos.
Eles estão eliminando garantias constitucionais, fechando a internet e bloqueando todas as formas de comunicação. Qualquer coisa pode acontecer por lá, e nós nem saberemos", observa Yamir, indignado.
A questão está em toda parte, e o coordenador da Aliança dos Povos Unidos aborda o desafio. "Acredito que isso só pode ser resolvido por meio de um amplo diálogo com todos os setores. E estou falando apenas da Lei 462 (que transfere o Fundo de Seguridade Social para o setor financeiro), porque ela não é suficiente para resolver os grandes problemas que enfrentamos como povo.
Há uma negligência massiva com as necessidades da população. Serviços básicos, saúde, educação, desemprego, baixos salários. Soma-se a isso o memorando de entendimento com os Estados Unidos, que afeta nossa soberania.
Este governo é submisso aos norte-americanos, e este presidente poderia usar essa carta na manga se os protestos se intensificarem. Ele sabe que o povo tem limites e que pode haver confrontos com a população em nível nacional.
Veremos o que acontece", conclui Yamir.
Saio do escritório da SUNTRACS; a chuva é forte. Talvez não tanto quanto a incerteza que me persegue. "O Panamá vive na véspera", teria dito Marcelo Quiroga Santacruz, referindo-se aos golpes de Estado em sua Bolívia natal.