Brasil | SOCIEDADE | POLÍTICA

Multidões tomam as ruas contra anistia a golpistas e blindagem parlamentar

Uma multidão tomou as ruas no último fim de semana no Brasil em manifestações massivas para rejeitar um projeto de lei de anistia aos militares e civis golpistas, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, e a “blindagem” a parlamentares acusados de corrupção e outros crimes.

Daniel Gatti

24 | 9 | 2025


Foto: Gladyston Rodrigues - EM-D.A Press

As manifestações surgiram fora dos partidos políticos, a partir da base e de figuras com grande influência social e cultural no país.

Uma das maiores mobilizações ocorreu no domingo em São Paulo, onde a multidão chegou a 50 mil pessoas — algo difícil de reunir recentemente no Brasil entre os setores de esquerda e antigolpistas. No Rio de Janeiro, a ONG More in Common estimou a marcha em cerca de 42 mil pessoas.

Também houve grandes mobilizações em outras capitais importantes, como Salvador (Bahia), Recife, Brasília, Belo Horizonte e Porto Alegre.

Fora Bolsonaro” foi uma das palavras de ordem que voltou a ser ouvida nessas marchas, convocadas em repúdio a duas iniciativas legais da ultradireita e dos setores mais conservadores.

Uma delas, a chamada “PEC da Blindagem”, busca “blindar” os parlamentares perante a Justiça, para evitar que sejam condenados por diversos crimes (promoção do golpismo, corrupção ou outros). A outra proposta visa anistiar os condenados pela tentativa de golpe de 2023, que já somam várias centenas e incluem Bolsonaro, condenado neste mês a 27 anos de prisão.

“Virar a página”

A emenda da blindagem foi aprovada na Câmara dos Deputados, e o projeto de anistia será tratado em regime de urgência na mesma casa. No Senado, a PEC da Blindagem foi derrotada, mas a ofensiva da ultradireita continua.

Um dos principais articuladores dos dois projetos é o deputado Flávio Bolsonaro, filho do ex-presidente, que contou com o apoio de toda a bancada da ultradireita e de parte do Centrão.

“A anistia é uma forma de virar a página e permitir que o Brasil supere as tensões do passado”, disse ele, recorrendo à retórica clássica dos defensores do terrorismo de Estado na América Latina.

Segundo o jornal Folha de São Paulo, as “manifestações da esquerda” deste domingo “superaram as do 7 de setembro (convocadas pela extrema direita em apoio a Bolsonaro) nas redes sociais, sem protagonismo do Partido dos Trabalhadores nem de figuras do governo Lula, mas com mobilização suficiente para mudar a narrativa”.

Entre os convocadores das marchas do último fim de semana, destacaram-se nomes importantes da cultura brasileira, como os músicos Chico Buarque, Caetano Veloso, Djavan, Lenine, Gilberto Gil, Paulinho da Viola e Marina Sena.

“Imaginem que alguém os assassine e o assassino não possa ser processado sem a autorização de seus colegas”, escreveu a cantora Anitta em sua conta no Instagram, referindo-se à PEC da Blindagem.

“Estamos aqui para protestar contra este Congresso, que é composto por criminosos, assassinos, corruptos — todos vestidos de políticos — que estão articulando uma lei para se auto proteger”, disse uma ambientalista em declarações ao jornal argentino Página 12.