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A produção de melão
Com Maria Anita
“Muito trabalho, poucos direitos”
Anita foi uma das jovens assalariadas rurais que participou da oficina de mulheres rurais realizada recentemente em Natal. Sua história enfatiza as duras condições de trabalho no nordeste do Brasil, que tantas vezes denunciamos na produção de melão em Honduras. O melão que chega aos Estados Unidos e à Europa, imaculado e brilhante, carrega consigo a mesma carga de sofrimento.
Amalia Antúnez
31 | 05 | 2022
Foto: Gerarddo Iglesias
Anita participou do encontro convidada por dirigentes da Federação dos Trabalhadores e Assalariados Rurais do Rio Grande do Norte (FETRARN) e nos contou um pouco sobre seu dia a dia como trabalhadora em uma empresa produtora de melão do município de Assú, a cerca de 200 km de Natal, capital do estado.
“Para chegar ao meu trabalho eu tenho que me levantar às 4 da manhã. A empresa não oferece transporte, então vou de moto. Faço 63 quilômetros, já chego cansada”, diz em tom de brincadeira, mas também falando sério.
Anita conta que sua tarefa é no campo, nas plantações de melão, girando a fruta para que não fique com marcas na casca, para que fique uniforme e tudo da mesma cor. São as exigências do mercado norte-americano e europeu, para onde a fruta é exportada.
“Aqui no nordeste do Brasil, as trabalhadoras rurais que conseguem um emprego precisam trabalhar e trabalhar e trabalhar. Agora, contamos com muitos poucos direitos”, lamenta.
Ela, como tantas outras, ganha apenas um salário-mínimo mensal, 1.212 reais, o equivalente a 256 dólares, isso durante a safra do melão.
“Desse valor tenho que descontar o combustível, a manutenção da minha moto e a comida que levo ao trabalho, pois a empresa não nos oferece alimentação", diz.
A empresa também não paga pelo tempo que Anita leva se deslocando da casa ao trabalho, tempo chamado de horas in itinere, já se adequando às mudanças introduzidas pela reforma trabalhista, implementada pelo governo do presidente Michel Temer, em 2017.
Não possuem plano de saúde e até recentemente comiam a marmita fria, a que traziam de casa.
“Um dia eles nos trouxeram uma espécie de estufa, tipo forninho para aquecer a comida, isso foi uma coisa boa”, destaca.
Anita cita outro problema que constitui um denominador comum no agronegócio da América Latina: os banheiros públicos não são adequados, principalmente para as mulheres durante o período menstrual, quando precisam de certas condições higiênicas.
“Temos banheiros químicos, mas ninguém se ocupa de deixá-los limpos, e as mulheres precisam de um banheiro em boas condições, mais ainda quando estamos menstruando".
O caso de Anita não é o único na região nordeste do Brasil e, por incrível que pareça, tem casos piores ao dela.
A escassez de emprego, especialmente para as mulheres, muitas vezes significa que as trabalhadoras aceitem condições miseráveis sem reclamar e as empresas se aproveitem desse fator para impor as regras do jogo.
“As vezes a mulher nem sabe quais direitos tem como trabalhadora”, diz ela.