A carne uruguaia made in Brazil
A empresa Minerva Foods é uma empresa frigorífica de origem brasileira que opera no país desde o início dos anos 90. Sua casa matriz está localizada na cidade de Barretos, no estado de São Paulo, mas possui operações de produção e de distribuição nos cinco continentes.
Amalia Antúnez
22 | 02 | 2023
Raúl Torres | Foto: Daniel García
Com sua estratégia de expansão regional, a Minerva tem como principal objetivo posicionar a indústria brasileira como uma jogadora de relevância para as cadeias globais de distribuição de alimentos.
Na América Latina, a empresa está presente no Paraguai, na Argentina, no Chile, no Uruguai e na Colômbia, sendo a líder em exportação de carnes bovinas da região, ultrapassando, pois, a sua concorrente direta, a JBS.
No Uruguai, a Minerva desembarcou em 2011, quando adquiriu o frigorífico PUL, localizado em Melo, departamento de Cerro Largo, expandindo seus negócios com a compra dos frigoríficos Carrasco (2014) e Canelones (2017). Mais recentemente, assinou um compromisso de compra da unidade da Breeders & Packers Uruguay (BPU).
Esta nova aquisição, que já é quase certa, é sinal de alarme para os produtores como para os trabalhadores da empresa, pois com esta operação a empresa brasileira terá a faca e o queijo na mão, dominando assim toda a cadeia produtiva do setor, garantem.
contamos os prejuízos
Em termos de relações de trabalho, a Minerva costuma impor suas condições e ainda que se disponha a negociar com os sindicatos, se utiliza do fato de ser quase monopólio para pressionar acordos favoráveis exclusivamente aos seus interesses.
Desde que chegou ao Uruguai, a empresa tem um sistema rotativo de licenças e inclusive de seguro desemprego, utilizado (o sistema) entre seus frigoríficos; muitas vezes como mecanismo de pressão nas negociações coletivas.
Foi assim que a empresa conseguiu forçar os trabalhadores e as trabalhadoras a aceitarem uma redução salarial no frigorífico Canelones.
Os trabalhadores foram para o seguro-desemprego por mais de um ano e meio, quando lá tiveram que negociar um novo convênio, em 2021. Nesse então, o Sindicato de Operários e Operárias do Frigorífico Canelones (SOOFRICA) priorizou a reabertura da fábrica, o que supunha uma redução salarial que atualmente os sindicalistas buscam recuperar.
Em janeiro deste ano, o Sindicato apresentou uma pauta de negociações, mas segundo informaram, a empresa não foi receptiva a nenhum dos pontos abordados e o SOOFRICA resolveu, entre outras coisas, conscientizar a população sobre o crítico momento em que estão vivendo.
O presidente do sindicato, Raul Torres, assinalou que além das reivindicações salariais que são de vital importância para os trabalhadores e as trabalhadoras, urge definir aspectos que fazem referência à organização do trabalho interno da empresa.
A Minerva alega que o mercado do setor das carnes está em crise, devido a fatores como a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, a queda na exportação de carnes para a China e a seca que afeta a produção agropecuária no Uruguai.
Entretanto, esta mesma Minerva assinou recentemente um acordo de compra do frigorífico BPU do conglomerado japonês NH Foods, por 40 milhões de dólares e, de acordo com os dados oferecidos pelo portal Uruguay XXI, em 2021 só o Frigorífico Canelones exportou mais de 200 milhões de dólares.
Se a compra do BPU acontecer, a empresa Minerva passará a concentrar 28,3 por cento do abate total – uns 747 mil animais -, captando assim 18 por cento do abastecimento de carne bovina congelada e de produtos derivados da carne. Aliás, junto com a outra brasileira que também opera no Uruguai, a Marfrig passariam a controlar 56 por cento do mercado de carnes uruguaio.
Foto: Daniel García