Com Martín Cardozo
No final de novembro, soube-se que estão bastante avançadas as negociações entre a brasileira Minerva Foods e a japonesa NH Foods para a aquisição do frigorífico Breeders & Packers Uruguay (BPU), localizado no departamento de Durazno. A operação preocupa os sindicatos do setor aglutinados na Federação de Operários da Indústria da Carne e Afins (FOICA).
Amalia Antúnez
19 | 12 | 2022
Martín Cardozo | Foto: Daniel García | Rel UITA
Estima-se que possivelmente o valor da transação fique entre 35 milhões e 45 milhões de dólares.
A Minerva Foods passaria a controlar quatro fábricas no Uruguai. Já controla três: Canelones, Carrasco e Pul SA que, em conjunto, só em 2021, já exportaram até agora 478 milhões de dólares em carne bovina, segundo dados revelados pelo Centro de Informações da agência Uruguay XXI, responsável pela promoção de exportações, investimentos e imagem país do Uruguai.
O frigorífico BPU chegou a exportar 170 milhões de dólares.
De acordo com um detalhado relatório apresentado pelo Semanário Brecha do Uruguai, o importante fator da Minerva querer adquirir o frigorífico BPU se deve ao fato de ser esta uma das fábricas mais modernas da América Latina, contando com uma capacidade de abate de 1.200 cabeças de gado por dia. Portanto, essa compra causaria um aumento de 40 por cento na capacidade de abate da Minerva no país.
Mas, a aquisição do frigorífico pode ser o início de um acordo mais amplo, pois -ao fusionar ambas as marcas- a Minerva também passa a controlar uma das maiores fábricas presentes também na Austrália.
De acordo com dados projetados pelo Instituto Nacional da Carne (INAC), a Minerva passaria a concentrar 28,3 por cento do abate bovino total – uns 747 mil animais –, e com isso controlaria 18 por cento do abastecimento de carne bovina refrigerada e produtos do setor das carnes no mercado uruguaio.
“Ainda não há nenhum comunicado oficial sobre a compra do frigorífico BPU por parte da Minerva”, disse para A Rel Martin Cardozo, presidente da FOICA. “O que sim houve foi a visita de uma delegação de funcionários da Minerva ao BPU, segundo nos informaram os companheiros”.
Consultado sobre o eventual impacto desta operação sobre os trabalhadores e as trabalhadoras, Cardozo afirmou que há uma certa preocupação.
“Desde que chegou ao Uruguai, a Minerva se utiliza em suas fábricas frigorificas de um sistema rotativo para as férias e para o uso do seguro-desemprego. Se já praticam um uso abusivo deste sistema com as três unidades, imaginem o que farão quanto tiverem o controle das quatro”.
Conforme explicações do dirigente, muitas vezes este sistema de rotação é utilizado como mecanismo de pressão na negociação coletiva.
Caso a Minerva adquira o frigorífico BPU, tentará impor as mesmas condições aplicadas em suas outras fábricas, incluído o realinhamento salarial, considera Cardozo.
A operação também preocupa os produtores rurais, por temerem uma maior concentração do abate na mão na Minerva. Com isso a empresa brasileira poderá terminar pautando os preços do mercado uruguaio.