Gigante do setor de carne bovina impera também no Uruguai
A gigante brasileira surpreendeu a todos com o anúncio, em 28 de agosto, da compra de 16 frigoríficos de sua concorrente na América Latina, a empresa Marfrig, localizados três deles no Uruguai.
Amalia Antúnez
04 | 09 | 2023
Foto: Gerardo Iglesias
A notícia gerou desconforto entre produtores e empresários e preocupação na Federação dos Trabalhadores da Indústria das Carnes e Afins (FOICA), filiada à UITA.
Se a transação for confirmada, a Minerva Foods controlará um total de sete unidades frigoríficas no país: Carrasco, Canelones, PUL, BPU, La Caballada, Estabelecimento Colônia e Inaler.
Conforme expressou à Rel Martin Cardozo, presidente da FOICA, o anúncio pegou todos de surpresa
“A notícia foi uma grande surpresa, especialmente porque, em 16 de agosto, a Comissão de Promoção e Defesa da Concorrência havia confirmado a compra do frigorífico BPU pela Minerva Foods após vários meses de análise, e poucos dias depois surgiu essa nova operação”, disse ele.
“Existe uma certa preocupação e incerteza entre os trabalhadores e trabalhadoras. É sabido que esse tipo de concentração muitas vezes leva ao que as empresas chamam de 'reestruturação do trabalho’, um eufemismo para demissões ou paralisação de fábricas”, analisou o dirigente.
Em termos de relações de trabalho, Cardozo observou que a Minerva Foods sempre tenta impor suas condições e, embora cumpra com as normas em termos de salários e condições de saúde e segurança em suas fábricas, costuma ser inflexível nas negociações coletivas.
“Desde que chegou ao Uruguai, a empresa mantém um sistema rotativo de licenças e seguro desemprego com os trabalhadores de suas diferentes unidades. Algumas fábricas inclusive são fechadas por vários meses, com o intuito de aproveitar a necessidade de retomar as operações para definir regras salariais, horários de trabalho e até mesmo frear alguma reivindicação sindical.”
As associações de produtores, por sua vez, estão preocupadas e convocaram uma reunião de emergência com o presidente Luis Lacalle Pou, que as recebeu na terça-feira, dia 29, para discutir o assunto.
Segundo afirmou em uma coletiva de imprensa Patricio Cortabarría, presidente da Associação Rural do Uruguai, sindicato que representa os produtores de gado, o problema é a concentração do setor em uma só empresa. A Minerva Foods agora possuirá sete fábricas do Uruguai e controlará mais de 44 por cento do abate no país.
Após a reunião dos produtores com o presidente do Uruguai, informou-se que a transação será analisada pela Comissão de Promoção e Defesa da Concorrência do Ministério da Economia e Finanças antes de ser aprovada.
Se concretizada, a operação será feita por meio da Athn Foods, subsidiária da Minerva Foods, que adquirirá a participação acionária nas filiais uruguaias, obtendo indiretamente três das quatro unidades frigoríficas que a Marfrig possui no Uruguai.
Com essa grande jogada da Minerva Foods, é inevitável trazer à tona o ocorrido há alguns anos no setor da produção de cervejas, envolvendo a também brasileira AmBev, por como se transformou na gigante AB InBev.
A transnacional desembarcou em 2002, adquirindo três fábricas produtoras de cerveja localizadas em Montevidéu, Minas e Paysandú. Ao passar a ser a detentora do monopólio cervejeiro, a AmBev imediatamente anunciou o fechamento da fábrica localizada em Paysandú, onde a cerveja de marca Norteña era produzida. Os trabalhadores e as trabalhadoras foram tratados apenas como números na engrenagem capitalista, cuja lógica de crescimento é a de dinamitar fábricas.
“O cenário é muito recente, e como federação, estamos avaliando tudo cuidadosamente”, disse Cardozo.
“Sabemos que nesta mesma operação, a Minerva Foods adquiriu outras 13 unidades na América Latina. Por tudo isso, mais do que nunca, é necessário entrar urgentemente em contato com outras organizações sindicais do setor na região para trocar informações e traçar estratégias comuns de ação. Contamos com a Rel UITA para isso”, concluiu.
A chegada da Minerva Foods ao Uruguai, em 2011, foi parte de uma estratégia de expansão regional, tendo como objetivo posicionar a indústria brasileira como um jogador relevante nas cadeias globais de distribuição de alimentos.
Com essa nova operação, adquirindo não só onze fábricas no Brasil, uma na Argentina, uma no Chile, mas também três no Uruguai, a empresa dominará 44% do abate de carnes de toda a América Latina, tornando-se a empresa com o maior número de fábricas certificadas para exportar para a China.