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Margarida: Uma mulher que lutou para não morrer de fome

Margarida foi assassinada no dia 12 de agosto de 1983, atingida no rosto por um tiro proveniente de uma escopeta calibre 12. Parece difícil compreender um crime que aconteceu há 38 anos, e hoje você tentar explicar e mostrar a importância da luta de Margaria Maria Alves.
Imagem: CONTAR

“...é melhor morrer na luta do que morrer de fome”
Margarida Maria Alves

A Confederação Nacional dos Trabalhadores assalariados e assalariadas rurais (CONTAR) quer ajudar no resgate da história desta mulher, sindicalista e líder de grandes mobilizações na Paraíba, que repercutiu no mundo inteiro.

Margarida estava enxergando longe, os dias áridos que iríamos viver no século 21; e nós estamos seguindo os passos dela, lutando para não morrer de fome”, afirma Maria Helena, diretora da CONTAR.

O presidente da CONTAR, Gabriel Bezerra, traduz: “Margarida, na direção do sindicato de Alagoa Grande, na Paraíba, ajuizou mais de cem ações trabalhistas na justiça do trabalho regional, para a defesa dos direitos dos assalariados rurais, e foi primeira mulher, do meio rural, a lutar pelos direitos trabalhistas no estado da Paraíba, em plena ditadura militar”.

Somente isso, já bastasse para tornar Margarida, naquela época, uma mulher perseguida. Como acontece até hoje.
Margarida foi assassinada, porque defendia os direitos trabalhistas dos assalariados e assalariadas rurais, na década de 80, no século passado. Esta foi a motivação real do crime”, afirma Gabriel Bezerra.

O grupo político-econômico da época, que comandava o ciclo da cana-de-açúcar e o latifúndio no estado da Paraíba, era denominado “Grupo da Várzea” – que até hoje tem políticos membros na agremiação “CENTRÃO” – que dá sustentação ao governo Bolsonaro. O referido grupo organizou, segundo as denúncias, planejou e executou a morte de Margarida Maria Alves.

Como foi o martírio de Margarida?

No momento do disparo, ela estava em frente a sua casa, na companhia do marido e de seu filho. Ao que tudo indica Margarida foi morta por um matador de aluguel e o crime foi cometido por viés político.

Após 38 anos, o crime, que teve repercussão internacional com denúncia encaminhada à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), não teve nenhum acusado responsabilizado pela morte da sindicalista. O acusado de mandar executar Margarida, não foi preso – Aguinaldo Veloso Borges, e um executor do crime foi liberado pela justiça.

O legado de Margarida Alves cresce cada dia mais, pois é motivo de inspiração para milhares de mulheres mundo a fora; mulheres que, assim como Margarida, ousam lutar contra todas as formas de opressões e injustiças – que perpassam as esferas trabalhistas e provenientes da violência de gênero, seja física, sexual, psicológica, patrimonial ou moral.

Mulher, mãe, trabalhadora, sindicalista e defensora dos direitos dos pobres e oprimidos, Margarida nasceu em Alagoa Grande/PB, e foi a primeira mulher a exercer um cargo de direção sindical no país. “É um orgulho e inspiração para nossa luta e organização”, afirma Maria Helena.

Marcha das Margaridas

As entidades sindicais dos trabalhadores e trabalhadoras rurais no Brasil, realizam, desde o ano 2000, a Marcha das Margaridas. Na sua primeira edição, mais de 20 mil mulheres participaram da manifestação em Brasília.

Na pauta das Marchas realizadas, estão: o direito à terra, à água, à agroecologia, educação, saúde, e contra todo tipo de violência, que está cada vez mais forte no país. A CONTAG é a protagonista da Marcha, que acontece a cada cinco anos.


Nota: Com informações do Coletivo Margarida Maria Alves