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Hostilidade e demissões

Marfrig: abusos, desrespeitos e intransigência

Os trabalhadores e as trabalhadoras do frigorífico da transnacional de de carnes Marfrig, um dos gigantes do setor, na cidade de Várzea Grande, no estado de Mato Grosso, denunciam uma série de arbitrariedades e estão sendo demitidos.

Amalia Antúnez

31 | 7 | 2023


Foto: CONTAC

Em diálogo com La Rel, Evandro Navarro, advogado da nossa filiada, a Confederação Democrática dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Indústria de Alimentação (CONTAC), que está prestando assistência aos trabalhadores, explicou os antecedentes do conflito.

"Diante de uma série de abusos da gerência local, os trabalhadores iniciaram um protesto com paralisação das atividades nos dias 24 e 25 de julho, após terem apresentado uma lista de reivindicações que a gerência local simplesmente ignorou", explicou.

Os trabalhadores denunciam que a empresa desconta seus salários mesmo quando eles apresentam atestados médicos por lesões que os impedem de trabalhar, que não fornece Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), que o ritmo de trabalho e as jornadas são extenuantes e que os supervisores de nível médio praticam assédio moral.

"O protesto foi a forma legítima que esses trabalhadores e trabalhadoras encontraram para serem escutados", afirmou Navarro.

Mulheres e migrantes são os mais afetados.

Conforme informou o assessor da CONTAC, o frigorífico de Marfrig em Várzea Grande emprega muitas mulheres, a maioria delas chefas de família, e muitos migrantes, principalmente venezuelanos.

"Quando os funcionários têm seus salários descontados por não poderem trabalhar devido a alguma lesão decorrente do ritmo intenso de trabalho ou da sobrecarga, essas famílias são consideravelmente afetadas", destaca.

Em um ato de total intransigência, a Marfrig fez uma proposta de acordo durante as manifestações, que foi firmemente rejeitada pelos trabalhadores e trabalhadoras. No entanto, a transnacional insistiu que a maioria da equipe havia aprovado o acordo e os impediu de retornar ao trabalho.

Esses trabalhadores buscaram a assessoria da CONTAC porque não foram atendidos pelo sindicato presente na empresa.

"Esta organização sindical está alinhada aos interesses da empresa e, contrariamente ao que a maioria decidiu, assinou um acordo com um aumento salarial insignificante."
"Os trabalhadores e as trabalhadoras fizeram a greve sem o aval do sindicato por não estarem de acordo com o que foi assinado", explicou recentemente eleito presidente da CONTAC.

Abusos e desrespeitos sentidos na carne

Conforme indicado por Navarro, que está em Várzea Grande, uma reunião foi acordada com a gerência na terça-feira, 25, mas não lhe foi permitida a entrada como assessor jurídico dos trabalhadores/as.

"Apenas cinco companheiros (comissão negociadora) entraram, e a administração local não apenas ignorou as reivindicações apresentadas, mas também ameaçou descontar os dias de greve e demitir aqueles que participaram da medida de força", disse Navarro.

Na última hora de ontem, quarta-feira, dia 26, a empresa cumpriu com suas ameaças e demitiu os trabalhadores que faziam parte da Comissão Negociadora, alegando justa causa.

A CONTAC entrou com uma ação de denúncia perante o Ministério Público do Trabalho para reverter as demissões e impedir as irregularidades, abusos e desrespeitos da Marfrig.

"Agradecemos à Rel UITA por divulgar e internacionalizar o que está acontecendo nesta empresa em Várzea Grande. A voz de nossos companheiros e companheiras não pode ser silenciada", concluiu Navarro.

Fotos: CONTAC