Frito Lay, no ritmo da loucura
Preocupado pela alta porcentagem de trabalhadoras das linhas de produção com lesões musculoesqueléticas, o Sindicato dos Trabalhadores da Frito Lay (Sitrafritolay) alertou sobre o intenso ritmo e as longas e extenuantes jornadas de trabalho.
Amalia Antúnez
09 | 02 | 2023
Foto: Sitrafritolay
A Rel UITA convocou o seu assessor em saúde ocupacional, o Dr. Roberto Ruiz, para um encontro virtual onde as trabalhadoras afetadas e os dirigentes do sindicato expuseram suas preocupações e a necessidade de articular ações para combater a realidade que enfrentam na fábrica da Frito Lay na Guatemala.
Ruiz, especialista em Medicina do Trabalho com enfoque em Lesões por Esforços Repetitivos (LER), foi um protagonista decisivo na construção da Norma Regulamentadora 36 (NR36), junto com Siderlei de Oliveira (CONTAC) e Neuza Barbosa (CNTA), que entre outros avanços, garantiu as pausas psicofisiológicas durante a jornada de trabalho.
“O ritmo em qualquer indústria e as jornadas de trabalho sem pausa são as principais causas de LER no mundo do trabalho, e ainda que os empresários neguem sua vinculação direta e argumentem que se trata de lesões reumatoides, há provas acadêmicas e empíricas que assim o demonstram”, disse o Dr. Roberto ao iniciar a sua palestra.
As lesões do túnel do carpo, na coluna e nas cervicais são as mais frequentes.
Segundo relatos das trabalhadoras, a combinação entre o ritmo de trabalho, a posição e o tempo que elas permanecem nas linhas de produção é o que faz com que a imensa maioria delas sofra dores intensas e permanentes, precisando tomar fortes medicamentos diariamente, que muitas peçam licença médica, esperando ser operadas ou simplesmente porque já não suportam a dor que sentem.
Soma-se a isto o fato de antes de colocarem os salgadinhos nas caixas de papelão, devem armar as caixas, que chegam em embalagens que pesam mais de 20 quilos.
Apesar de o sindicato levar anos denunciando a falta de medidas ergonômicas nesta fábrica e o frenético ritmo de trabalho, a decisão da empresa de automatizar parte da linha de produção fez com que as condições piorassem, disparando novos alarmes.
Luís Tomas, secretário geral do Sitrafritolay, afirmou que a gerência reduziu em 50 por cento a mão de obra no setor de empacotamento, depois de instalarem uma esteira transportadora de caixas.
“Com esta medida, as trabalhadoras, que antes empacotavam 55 pacotinhos de salgadinhos por minuto, passarão a empacotar 200”, alertou.
Uma sobrecarta que, unida a jornadas de trabalho de 12 horas diárias e de 48 a 60 horas semanais, afetará ainda mais as trabalhadoras e os trabalhadores dessa fábrica.
Para o secretário regional da UITA, Gerardo Iglesias, é imperioso coordenar com outros setores da esfera social para podermos enfrentar esta epidemia de lesões.
“Devemos nos articular tanto com a Universidade como com os Ministérios de Saúde e de Trabalho, assim como com a previdência social para frear este tipo de práticas do pior capitalismo, que explora os operários ao máximo, deixando todos doentes para depois jogá-los no lixo”, disse Iglesias.
Do encontro, ficou o compromisso de construir uma agenda de trabalho conjunta com Festras e Sitrafritolay, que contará com oficinas sobre saúde e segurança, além de reuniões com autoridades para estabelecermos ações concretas que melhorem as condições de trabalho na Frito Lay (PepsiCo) na Guatemala.