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Manifesto contra a revisão da NR 36

Mais de 80 técnicos, pesquisadores, professores e doutores da área de saúde do trabalhador assinam manifesto em defesa da NR36.

Rel UITA


Ilustración: Allan McDonald

MANIFESTO:
SOMOS CONTRA À REVISÃO DA NORMA REGULAMENTADORA – NR 36 NO ATUAL MOMENTO

Desde 1997, o movimento sindical brasileiro do setor da alimentação, pesquisadores ligados à área de saúde do trabalhador de diversas Universidades e membros do Ministério Público do Trabalho (MPT), têm buscado a melhoria geral das condições de trabalho nos frigoríficos. Depois de 10 anos de estudos, negociações, avanços científicos e pressão política, com ampla participação do governo, trabalhadores organizados e empregadores, esse esforço foi coroado com a publicação da Norma Regulamentadora 36 (NR 36) em 2013, que determinou uma série de obrigações e parâmetros de monitoramento das condições de trabalho no setor de Abate e Processamento de Carnes e Derivados, resultando em grande diminuição dos acidentes e doenças do trabalho. Muitos adoecimentos, incapacidades para o trabalho e mortes foram comprovadamente evitados nestes ambientes.

Desde então, a NR 36 vem sendo aprimorada, com a publicação de pequenos ajustes e anexos que melhoraram ainda mais seu poder de controle e proteção aos riscos ocupacionais nos frigoríficos. Entretanto, seguindo iniciativa recorrente do atual governo, com o falacioso e pomposo nome de “harmonização e modernização”, muitas mudanças vêm sendo operacionalizadas na legislação, em especial nas Normas Regulamentadoras que regulam as condições da saúde e da segurança no trabalho, elaboradas em gabinetes, com restrição da participação ampla e democrática dos trabalhadores e/ou de seus representantes, fortemente alinhadas às demandas patronais em geral.

Em várias das alterações nas NRs já republicadas, constata-se o rebaixamento dos padrões previstos na legislação base destas normas, que remonta ao ano de 1978. Em sua maioria, tais mudanças ocorrem alinhadas ao desmonte do Direito do Trabalho, desde a chamada Reforma Trabalhista de 2017.

É justamente sobre esta questão que este manifesto alerta: o rebaixamento dos padrões de saúde e segurança no trabalho em geral e especificamente em frigoríficos, representa um enorme retrocesso social, já que o referencial normativo em vigor é fruto de décadas de avanços e melhorias nestes ambientes, e a sua alteração açodada vai agravar as condições de trabalho, com o retorno aos alarmantes índices de afastamentos do trabalho por incapacidade, devido a motivos ocupacionais que não eram reconhecidos pelas empresas nem pelo INSS, muito frequentes antes da publicação da norma. Cabe salientar que tais afastamentos tinham repercussões perversas pela sua associação ao sofrimento, empobrecimento e perda de direitos sociais dos trabalhadores e às suas famílias, associado ao impacto financeiro transferido para a sociedade, onerada diretamente pelo aumento dos benefícios previdenciários como auxílios-doença, auxílios-acidente, aposentadorias por invalidez e pensões por morte, bem como com despesas médicas em tratamento e reabilitação, em sua maior parte assumidas pelo SUS. Os custos sociais intangíveis representados pela dor, incapacidades crônicas, limitações para o retorno ao trabalho em condições adequadas, e a condenação à dependência previdenciária, muito mais graves, não podem ser mensurados em moeda corrente!

De forma geral, é injustiça flagrante a naturalização do descarte de pessoas jovens, na plenitude da sua fase produtiva, que encaminhadas ao INSS acabam sendo afastadas cronicamente, com custos bancados pela sociedade e não por quem lesou os trabalhadores.

Portanto, defendemos que neste momento, não se façam mudanças açodadas na legislação de saúde e segurança, sem o devido suporte técnico suficiente sobre cada tema abordado pelas diferentes NR (s).

Mudanças na legislação exigem que antes de qualquer alteração, sejam superadas as contradições que o dinamismo e a complexidade do mundo do trabalho colocam todos os dias para os trabalhadores, tais como a garantia de maior equilíbrio entre as exigências de produção e o efetivo de trabalhadores. Outras possibilidades de alterações virtuosas, mesmo que temporárias, incluem a redução da jornada de trabalho em locais insalubres e o aumento das pausas laborais como medida compensatória à intensificação do trabalho.

A evolução das relações de trabalho para modelos mais equilibrados e sustentáveis, propósitos já alcançados em outros países, indica que a ampliação da participação dos trabalhadores e de suas entidades na gestão dos programas de prevenção desenvolvidos pelas empresas, assim como iniciativas de humanização e valorização das relações de trabalho, que incluem o aumento da autonomia dos trabalhadores, são avanços civilizatórios que beneficiam a todos os interessados, e se afastam da sombra da barbárie, lógica que parece orientar algumas das propostas de revisões normativas em curso.

Conclamamos a todos que partilham deste mesmo entendimento e indignação, que apoiem e participem desta manifestação!

Este é o nosso manifesto.

Assinam:

  1.  Roberto Carlos Ruiz – Médico do Trabalho. Membro da comissão de criação da NR 36. Pesquisador associado da Rede Trabalhadores & COVID-19 (ENSP/FIOCRUZ). Mestre em Saúde Coletiva (UNICAMP). Doutorando em Saúde Coletiva (UFSC).
  2. Dra. Maria Maeno – Médica e pesquisadora da Fundacentro e voluntária do Instituto Walter Leser da Fundação Escola Sociologia e Política de São Paulo.
  3. Prof. Dr. Ricardo Antunes – Professor Titular de Sociologia (IFCH/UNICAMP).
  4. Prof. Dr. Fabrício Augusto Menegon – epidemiologista, doutor em Saúde Pública. Professor do Departamento de Saúde Pública (UFSC).
  5. Prof. Dr. Paulo Antônio Barros Oliveira – Professor titular de medicina social (UFRGS). Auditor Fiscal do Trabalho (AFT MTb) aposentado.
  6. Dra. Mara A. B. Conti Takahashi – Socióloga aposentada, CEREST -Piracicaba e Pesquisadora Grupo PesquisAT e Fac. Saúde Pública (USP). Pesquisadora do Instituto Walter Leser da Faculdade de Sociologia e Política SP.
  7. Dr. Paulo Rogério Albuquerque de Oliveira – Doutor em Ciências da Saúde. Auditor Fiscal RFB. Engenheiro Segurança do Trabalho.
  8. Marcos Paiva Matos – Engenheiro de Segurança no Trabalho. Aposentado da FUNDACENTRO
  9. Prof. Dr. Fernando Mendonça Heck – Geógrafo. Professor do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), Campus Tupã.
  10. Prof. Dr. Willians Longen – Fisioterapeuta. Ergonomista Certificado da ABERGO (n. 248). Mestre em Ergonomia (UFSC). Doutor em Ciências da Saúde (UNESC). Pesquisador em Saúde do Trabalhador.
  11. Prof. Dr. Flávio Ricardo Liberali Magajewski – Médico, Doutor em Engenharia de Produção (UFSC), Professor do Curso de Medicina da Universidade do Sul de Santa Catarina.
  12. Dr. Diogo Cunha dos Reis – Pesquisador do Núcleo de Estudos em Ergonomia Aplicada (UFSC).
  13. Prof. Sandroval Francisco Torres – Professor do Curso de Fisioterapia da UDESC. Mestre em Engenharia de Produção / Ergonomia (UFSC). Coordenador do Programa de Extensão Saúde do Trabalhador CEFID – UDESC.
  14. Antônio Jane Cardoso – Psicólogo. Especialista em Saúde do Trabalhador pela PUC RS.
  15. Dra. Arline Sydneia Abel Arcuri – Doutora em química, com trabalho reconhecido nos temas benzeno, e nanotecnologia. Pesquisadora da Fundacentro.
  16. Arthur Lobato Psicólogo. Pesquisador em saúde do trabalhador – Prunart (UFMG).
  17. Beatriz Silva Rocha – Profissional de Educação Física com atuação / consultoria em Ergonomia.
  18. Prof. Dr. Charles Dalcanale Tesser – Departamento de Saúde Pública e Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (UFSC).
  19. Profa. Dra. Claudia Flemming Colussi – Departamento de Saúde Pública e Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (UFSC).
  20. Dra. Cristiane Maria Galvão Barbosa – Medica do trabalho. Tecnologista da Fundacentro. Doutora em ciências pelo departamento de Pneumologia (FAMED- INCOR-USP).
  21. Dra. Cristiane Oliveira Reimberg – Jornalista. Doutora em Ciências da Comunicação (USP).
  22. Cristiane Queiroz Barbeiro Lima – Pesquisadora Ergonomista em Saúde do Trabalhador aposentada da Fundacentro.
  23. Daniela Sanches Tavares – Tecnologista da Fundacentro. Pesquisadora em Saúde do trabalhador.
  24. Prof. Dr. Douglas F. Kovaleski – Departamento de Saúde Pública e Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (UFSC).
  25. Dra. Eclea Spiridiao Bravo – Médica aposentada do CEREST – Piracicaba. Pesquisadora Faculdade de Saúde Pública da USP e do Instituto Walter Leser da Faculdade de Sociologia
    e Política de São Paulo.
  26. Prof. Dr. Elcio Gustavo Benini – Professor da área de Administração (UFMS).
  27. Gil Vicente Fonseca Ricardi – Médico do Trabalho, Assistente Técnico da Coordenadoria Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho do Ministério Público do Trabalho (MPT).
  28. Profa. Dra. Eleonora d’Orsi – Departamento de Saúde Pública e Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (UFSC).
  29. Profa. Dra. Elizabeth Dias – Médica. Professora da UFMG na área de SST.
  30. Profa. Dra. Fatima Sueli Neto Ribeiro – Professora associada da UERJ. Comissão de Saúde do Trabalhador da ABRASCO e da ALAMES. Doutora em Epidemiologia e Coordenadora de grupo nacional de Epidemiologia do Câncer.
  31. Fátima Viegas – Médica do Trabalho e Intensivista Pediátrica e Neonatal.
  32. Fernanda Giannasi – Engenheira Civil. Auditora Fiscal do Trabalho aposentada.
  33. Prof. Dr. Fernando Hellmann – Departamento de Saúde Pública e Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (UFSC).
  34. Prof. Dr. Fúlvio Borges Nedel – Departamento de Saúde Pública e Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (UFSC).
  35. Prof. Dr. Gustavo Henrique Petean – Professor área de administração (UFG).
  36. Hugo Pinto, de Almeida – Enfermeiro e doutorando em Saúde Pública. (ENSP/FIOCRUZ).
  37. Prof. Dr. Ildeberto Muniz de Almeida – Médico. Professor departamento de Saúde Pública da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP).
  38. Profa. Dra. Ione Schneider – Departamento de Saúde Pública e Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (UFSC).
  39. Profa. Dra. Iracimara de Anchieta Messias – Professora de na área de saúde coletiva, segurança e saúde do trabalho e ergonomia campus de Presidente Prudente. Coordenadora do Neperg – Núcleo de Estudos e Pesquisa em Ergonomia. (FCT- UNESP).
  40. Ismael Gianeri – Técnico de segurança do trabalho.
  41. José Carlos do Carmo, médico – Instituto Walter Leser da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
  42. José Erivalder Guimarães de Oliveira – Médico. Especialista em Medicina do Trabalho. Diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo.
  43. José Hélio Lopes Batista – Psicólogo organizacional. Técnico de segurança do trabalho. Educador aposentado da Fundacentro-PE.
  44. Prof. Dr. José Luiz Fonseca Filho. Engenheiro Industrial. Professor da UDESC. Doutor em Ergonomia.
  45. Profa. Dra. Josimari Telino de Lacerda – Professora do departamento de Saúde Pública e do Programa de Pós-Graduação da UFSC.
  46. Dra. Juliana Andrade Oliveira – Socióloga, Pesquisadora em Saúde do Trabalhador.
  47. Profa. Dra. Leny Sato – Professora Sênior. Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
  48. Dr. Leo Vinicius Maia Liberato – Tecnologista da Fundacentro.
  49. Leonidas Ramos Pandaggis – Engenheiro de Segurança do Trabalho. Tecnologista Sênior da Fundacentro.
  50. Profa. Dra. Liliane Teixeira – Pesquisadora do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (ENSP/FIOCRUZ).
  51. Prof. Dr. Lindberg Nascimento Junior – Geógrafo e Doutor em Geografia (UFSC).
  52. Profa. Dra. Lizandra da Silva Menegon – Epidemiologista, doutora em saúde coletiva, professora do Departamento de Saúde Pública da UFSC.
  53. Luiz Antônio de Melo – Engenheiro Civil. Engenheiro de Segurança do Trabalho. Ergonomista. Especialista em Gestão Ambiental. Mestre em Tecnologia Ambiental.
    Tecnologista da Fundacentro.
  54. Luiz Scienza – Auditor do Trabalho, Professor (UFRGS). Presidente do Instituto Trabalho Digno (ITD).
  55. Prof. Dr. Marcelo Gonçalves Figueiredo – Professor de Engenharia de Produção da UFF/Campus Niterói.
  56. Marco Pérez – Médico sanitarista e do trabalho.
  57. Dra. Marcia Tiveron – Fonoaudióloga da área de Saúde do Trabalhador.
  58. Dra. Margarida Maria Silveira Barreto – Medica e Doutora em Psicologia Social– (PUC/SP).
  59. Maria Christina Felix – Engenheira. Tecnologista da Fundacentro.
  60. Profa. Dra. Maria Cristina Marino Calvo – Professora do Departamento de Saúde Pública e do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (UFSC).
  61. Dra. Maria Engrácia de Carvalho Chaves – Médica do trabalho e tecnologia da Fundacentro.
  62. Dra. Maria Juliana Moura Corrêa – PhD em epidemiologia. Pesquisadora associada (ENSP/FIOCRUZ).
  63. Maria Lusia Rodrigues Pereira – Advogada. Servidora aposentada da Fundacentro.
  64. Profa. Dra. Maria Regina Alves Cardoso – Epidemiologista. Profa. Titular Sênior da Faculdade de Saúde Pública (USP).
  65. Maria do Socorro Carvalho – Médica Sanitarista.
  66. Profa. Dra. Marta Inez Machado Verdi – Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Departamento de Saúde Pública e do Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva (UFSC).
  67. Mauro Menezes – Advogado. Mestre em Direito Público e ex-presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República.
  68. Profa. Dra. Mirelle Finkler – Cirurgiã Dentista. Doutora em Saúde Coletiva. Professora do Departamento de Odontologia e do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (UFSC).
  69. Prof. Dr. Raoni Rocha Simões – Professor Adjunto UFOP/Ouro Preto.
  70. Prof. Dr. Roberto Heloani – Professor titular (UNICAMP).
  71. Dr. Paulo Roberto Lemgruber Ebert – Advogado. Doutor em Direito (FD/USP).
  72. Prof. Dr. Rodolfo Andrade de Gouveia Vilela – Professor Sênior (FSP – USP).
  73. Prof. Dr. Rodrigo Otavio Moretti Pires – Departamento de Saúde Pública e Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (UFSC).
  74. Prof. Sabino Bussanello – Mestre em Educação e Trabalho. Assessor na Escola Sindical da FETIESC / Itapema.
  75. Sandra Donatelli – Ergonomista aposentada da Fundacentro.
  76. Profa. Dra. Sheila Rubia Lindner – Enfermeira. Departamento de Saúde Pública e Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (UFSC).
  77. Prof. Dr. Sérgio Fernando Torres de Freitas – Cirurgião dentista. Doutor em odontologia social, professor titular do Departamento de Saúde Pública, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (UFSC).
  78. Dra. Thaís Helena de Carvalho Barreira – Pesquisadora Ergonomista em Saúde do Trabalhador. Tecnologista da Fundacentro.
  79. Dr. Ubiratan de Paula Santos – Médico assistente na Divisão de Pneumologia do Instituto do Coração-InCor-HCFMUSP. Doutor em pneumologia (FMUSP).
  80. Prof. Dr. Walter Ferreira de Oliveira – Departamento de Saúde Pública e Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (UFSC).
  81. Profa. Dra. Vivian Aline Mininel – Enfermeira. Professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).