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Com Anderson Zanelato
Mais um processo que a JBS perde
A Justiça do Trabalho anuncia decisão para uma ação civil movida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) no final de 2020 contra a empresa de carnes Seara – JBS, no município de Rolândia no Paraná.
Amalia Antúnez
21 | 03 | 2022
Imagem: Rel UITA
A Seara-JBS foi condenada, em primeira instância, a pagar multa de 10 milhões de reais (quase 2 milhões de dólares) por expor seus trabalhadores e trabalhadoras ao risco de contaminação por Covid-19, em sua unidade frigorífica de Rolândia.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Alimentação de Rolândia, Anderson Zanelato, disse em entrevista à Rel que, no início da pandemia, os frigoríficos foram focos de contágio do coronavírus e que, na unidade de Rolândia, dois trabalhadores morreram por culpa da Covid-19.
“Diante dos inúmeros casos positivos e da morte de dois companheiros nossos, sendo que a empresa não oferecia as condições sanitárias, denunciamos a situação perante o MPT, que posteriormente ajuizou a ação civil”, lembrou Anderson.
Após as perícias nas dependências do frigorífico, verificou-se que em alguns setores os trabalhadores e as trabalhadoras estavam trabalhando praticamente grudados um ao lado do outro; que as máscaras fornecidas pela JBS eram de pano e que não realizavam testes, entre outras irregularidades.
“Como se sabe, os frigoríficos são locais com pouca ventilação e frio intenso, tornando-os ideais para a propagação do vírus. Foi, efetivamente, o que aconteceu nesta fábrica de Rolândia”, disse o dirigente.
A decisão da justiça destacou o fato de a empresa ter ignorado as medidas básicas de proteção.
“Claramente o aspecto econômico-financeiro prevaleceu (e continua a prevalecer hoje, quase dois anos após o início da pandemia), em detrimento da proteção da vida e da saúde de seus funcionários”, disse o texto.
“A JBS admite que simplesmente não cumpriu (e continua sem cumprir) a legislação de distanciamento social mínimo recomendado, porque essa medida afetaria o volume de produção da empresa e prejudicaria a produtividade e a lucratividade”.
Segundo Anderson, não existem dados oficiais sobre o número de trabalhadores e trabalhadoras infetados desde o início da pandemia, porém só durante a última onda de Covid-19, entre dezembro de 2021 e os primeiros dias de março de 2022, cerca de 300 trabalhadores pediram licença médica.
“Infelizmente, a empresa não fornece informações sobre os casos positivos de Covid-19 na fábrica, e as instituições de saúde também não. Mesmo assim, sabemos que o contágio foi em grande escala”, afirmou.
Estima-se que a empresa irá recorrer da decisão da Justiça do Trabalho mas o sindicato está confiante de que a segunda instância será positiva para os trabalhadores e as trabalhadoras, não tanto pela soma de dinheiro, que para empresas como esta são uma merreca, mas fundamentalmente para deixar um precedente aberto.