SINDICATOS

Sindicatos e governo uruguaios se opõem à reforma trabalhista brasileira, os empresários a apoiam

Luta de classes

Era previsível: o laboratório brasileiro ia convocar todos os aprendizes de feiticeiro da região para imitarem seus experimentos.

Depois de o governo argentino e as patronais do país afirmarem verem com bons olhos a reforma trabalhista de seu grande vizinho e rival do Mercosul, os empresários uruguaios seguiram pelo mesmo caminho.

Câmara de Indústrias do Uruguai (CIU) afirmou que consultará especialistas em legislação trabalhista brasileiros para ver se é possível aplicar aqui também o engendro maquinado pelo governo de Michel Temer.  

Washington Corallo, presidente da CIU, se sente particularmente seduzido pela forma como a reforma trabalhista brasileira dispôs a questão dos acordos, prevalecendo aqueles feitos pela empresa em detrimento dos convênios coletivos por setor, além de os trabalhadores e as trabalhadoras terem a “liberdade” de negociar por fora dos sindicatos quaisquer pactos individuais.

Outras partes sedutoras da reforma são as que beneficiam diretamente os empresários, que poderão modificar ao seu bel-prazer os horários da jornada de trabalho dos seus funcionários, estabelecendo contratos de curta duração e por tempo indeterminado, dividindo em três as férias anuais. O Uruguai precisa gerar condições de competitividade, afirmou Corallo.

“É uma provocação que o movimento sindical não vai aceitar”, respondeu o secretário geral da central sindical única PIT-CNTMarcelo Abdala.

“Essa reforma trabalhista representa um retrocesso do Brasil ao século XIX”, afirmou o dirigente.

O ministro do Trabalho e ex-sindicalista Ernesto Murro concordou com Abdala: “Se valer mais o acordo individual entre o trabalhador e o empresário do que a lei ou o convênio, retrocederemos dois ou três séculos”, disse.

E acrescentou que o “Uruguai vai continuar buscando o crescimento econômico, mas respeitando os direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras”.

O governo do presidente Tabaré Vázquez pretende convocar uma reunião especial com os órgãos sociotrabalhistas do Mercosul para concluir como a reforma trabalhista brasileira pode incidir nos outros países da região.

“Vai ser muito mais difícil competir se um grande país, como o Brasil, baixar seus custos trabalhistas dessa maneira”, disse o chanceler uruguaio Rodolfo Nin Novoa.

“O Uruguai levou adiante uma política democrática inclusiva, e o elemento mais importante de distribuição da riqueza, que é o salário, aumentou de maneira sistemática”, declarou a ministra da Indústria, Carolina Cosse.

As declarações de integrantes do governo uruguaio levaram o Palácio do Itamaraty a convocar o embaixador do Uruguai no BrasilCarlos Daniel Amorín-Tenconi, a “prestar esclarecimentos”.

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