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Com Rafael de Oliveira
“Lactalis é o pior grupo empresarial do Brasil”
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Alimentação de Santa Rosa, Rafael de Oliveira coordenou os eventos nas fábricas da Lactalis em Três de Maio e Santa Rosa, onde participaram sindicatos de todo o Estado do Rio Grande do Sul.
Em Santa Rosa, Gerardo Iglesias
08 | 04 | 2022
Rafael de Oliveira | Foto: Gerardo Iglesias
-Quais são as características dessa mobilização?
-Não é a primeira vez que fazemos isso. No ano passado já houve um movimento importante em pleno inverno. Lembro que vinham de vários municípios da região. Era o dia mais frio do ano, terrível.
O que ocorre é que essa empresa não dá espaço para os sindicatos. A Lactalis não mudou nunca a sua postura nesses três anos de gestão em que estou aqui.
Com outras empresas da região, como o frigorífico Alibem, a maior indústria da região, com mais de 1.500 trabalhadores e trabalhadoras, temos um bom relacionamento e realizamos assembleias na fábrica. Com a Lactalis isso não acontece.
-Para os trabalhadores e trabalhadoras que chegavam à fábrica era importante ver que tantos sindicatos de todo o Estado estavam vindo pra cá...
-Isso foi muito importante porque fortaleceu o sindicato e deu credibilidade à organização.
Além disso, ficou claro que a atitude da Lactalis não é um caso isolado em Santa Rosa. É um comportamento que ocorre em todo o Brasil. A empresa tem esse perfil e aplica essas políticas.
-Em seu site, a Lactalis se orgulha de ser a maior produtora de laticínios do mundo. Como é possível então que não ofereça sequer um reajuste salarial que contemple a inflação e que nem leve em conta a pandemia?
-É uma falta de respeito com os trabalhadores e trabalhadoras que continuaram a ir à fábrica para produzirem. Aliás, sabe-se que as empresas da indústria da alimentação foram as que mais cresceram durante a pandemia.
Então, ver como a Lactalis, por um lado, se orgulha de ser uma potência mundial no setor, mas por outro, na hora de retribuir aos seus trabalhadores se comporta como uma empresa mesquinha, é no mínimo indignante.
Em Santa Rosa, a produção dobrou, tínhamos dois turnos e agora trabalhamos 24 horas por dia. A empresa investiu milhões em máquinas para produzir mais e melhor, mas na hora de valorizar quem produz, não o faz e é isso que causa tanto mal-estar.
No nosso caso, desde setembro estamos negociando a assinatura do acordo e não chegamos a nada. O mínimo que exigimos é que o reajuste da empresa cubra a inflação total do período.
-E a pressão da Lactalis sobre os trabalhadores dentro da fábrica é gigantesca...
-Exatamente. A transnacional tem práticas antissindicais muito fortes.
Temos dificuldades com outras empresas, mas nada se compara à Lactalis, desde a retenção de contribuições sindicais até o assédio e a perseguição aos dirigentes.
A empresa passou a isolar os dirigentes sindicais do restante dos trabalhadores para que ninguém tenha contato com o sindicato.
-Quando as negociações começaram, a Lactalis oferecia um aumento de quanto?
-A empresa começou oferecendo um aumento que cobria 50 por cento da inflação e depois de muita luta atingimos a cifra de 80 por cento da inflação. Aí foi quando a empresa parou de negociar e não se mexeu mais.
A Lactalis daí então, sem ter assinado nenhum acordo coletivo, impôs unilateralmente esse aumento salarial, gerando grande confusão entre os trabalhadores e desmobilizando.
Esse é o panorama desta empresa, um dos piores grupos empresariais atuantes no Brasil..