Uruguai | SAÚDE| FRIGORÍFICOS

Com Martín Cardozo

Impactos da Reforma da Previdência na indústria frigorífica

O projeto de lei da Reforma da Previdência do governo uruguaio, que propõe entre outras coisas aumentar a idade de 60 para 65 da aposentadoria, trouxe à tona novamente a situação dos trabalhadores e das trabalhadoras da indústria frigorífica.

Amalia Antúnez

03 | 04 | 2023


Martín Cardozo | Foto: Sutlcas

Como em outras partes do planeta, esta atividade é uma das que registra os maiores índices de doenças ocupacionais, acidentes e incapacidade para o trabalho.

O Uruguai há quase uma década lidera o pódio das doenças musculoesqueléticas. 

De acordo com dados do relatório anual do Monitor de Doenças Profissionais do Banco de Seguros do Estado (BSE), a doença ocupacional mais frequente no setor frigorífico é a epicondilites, devido ao trabalho intenso e repetitivo (70,44 por cento), seguida da tenossinovite crônica da mão e do pulso (14,28 por cento), e a síndrome do túnel do carpo (10,43 por cento).

“Em um momento em que deveríamos estar analisando uma redução do tempo de trabalho para os operários e as operárias da indústria frigorífica, nós nos vemos obrigados a lutar para não aumentarem ainda mais a idade de nossa aposentadoria”, disse para a Rel, Martín Cardozo, presidente da FOICA.

Em 17 de março, este dirigente sindical, assim como outros integrantes da Federação, participou de uma audiência na Câmara de Representantes, onde apresentaram estes dados diante da ameaça de uma iminente aprovação da Reforma da Previdência, promovida pelo governo.

“De acordo com dados oficiais, a indústria frigorífica concentrou 61,7 por cento do total de trabalhadores lesionados no período de 2021-2022. A faixa etária com o maior número de pessoas diagnosticadas com doenças ocupacionais está entre os 35 e 44 anos”, afirmou Cardozo.

De janeiro a agosto de 2022 (último período registrado), houve na indústria frigorifica mais de 2 mil casos de acidentes ocupacionais, sendo o setor com o maior número de pessoas com incapacidades de trabalho.

Para Cardozo, o sistema de trabalho (por produção), que implica 9 mil dos 15 mil trabalhadores do setor, explica o porquê de esta indústria ser a que apresenta os maiores índices de lesões por esforços repetitivos.

Rechaçamos categoricamente este projeto

O ritmo de trabalho excessivo não é o único fator que incide no desgaste físico particular dos operários e das operárias dos frigoríficos.

“Não devemos nos esquecer das baixas temperaturas, dos riscos biológicos derivados da zoonose, do potencial vazamento de amônia, das intensas vibrações, das posturas forçadas”, disse o dirigente.

“O impacto desta reforma não se verá só em nosso setor, mas sem dúvidas seremos, juntos com a construção civil e os trabalhadores rurais, os mais prejudicados pela própria natureza de nosso trabalho. Por essa razão é que rechaçamos categoricamente este projeto”, finalizou.