Campanha 16 dias de ativismo
e combate ao racismo
Em uma nova reunião virtual do Comitê Latino-Americano de Mulheres da UITA (Clamu), foram delineados os temas que serão abordados para uma nova edição da Campanha dos 16 Dias de Ativismo contra a violência de gênero e pela promoção dos direitos humanos.
Amalia Antúnez
8 | 10 | 2024
Em seu quinto ano consecutivo, a campanha regional realizada pelas filiadas da Rel UITA, que ocorre de 25 de novembro a 10 de dezembro, promove a visibilidade de todos os tipos de violência contra as mulheres e a comunidade LGBTI, especialmente no âmbito do trabalho e sindical.
Em grupos, as integrantes do Clamu propuseram os temas a serem tratados este ano, sendo escolhidos por unanimidade: a promoção da igualdade salarial entre homens e mulheres para a mesma função, e a sororidade.
Em outro ponto, a reunião contou com a participação de Vanda Pinedo, coordenadora do Movimento Negro Unificado (MNU) de Santa Catarina, que fez uma atualização sobre o caso de Sonia Maria de Jesus.
Sonia permanece em condições análogas à escravidão por mais de 40 anos, como empregada doméstica na casa de um desembargador do Supremo Tribunal de Santa Catarina, Jorge Luiz Borba.
Sonia é negra, tem uma deficiência auditiva, e ficou sem documentos até que o caso se tornou público após uma denúncia anônima ao Ministério Público do Trabalho.
Ela também não teve acesso à saúde ou educação, sendo analfabeta tanto em português quanto em LIBRAS.
O MNU realizou, há algumas semanas, um ato em frente ao Tribunal de Justiça em Florianópolis, exigindo a liberdade de Sonia, que até agora, apesar das inúmeras denúncias e da campanha internacional em prol de sua liberdade, permanece na casa da família Borba.
Vanda fez um resumo da história de Sonia, já bem conhecida pelas integrantes do Clamu, ao mesmo tempo que expôs o racismo imperante em seu país.
“Apesar de mais de 50% da população brasileira ser negra, sofremos todo tipo de discriminação e violência, especialmente por parte do sistema de justiça”, denunciou.
Santa Catarina é, entre os estados brasileiros, um dos mais racistas e xenófobos, onde, segundo Vanda, proliferam grupos neonazistas.
A ativista também mencionou outro caso emblemático na luta do MNU para exemplificar todas as violências institucionais que a população negra, especialmente as mulheres, enfrenta.
“Não somos apenas os primeiros a sermos atingidos pelas balas da polícia, também nos é negado o direito à liberdade de culto em nossas comunidades quilombolas”, disse ela, explicando às participantes do Clamu a origem dessas comunidades.
“Os quilombos eram os lugares onde se refugiavam os escravos fugitivos. Daí surge o termo quilombola, que se refere àqueles que habitam esses locais, promovendo sua ancestralidade e sua cultura”.
Emocionada, Vanda fez um apelo às organizações sindicais da América Latina para que continuem unidas na luta pela liberdade de Sonia e na defesa dos direitos humanos.
“O caso de Sonia já não se trata de uma condição análoga à escravidão, é de fato um caso flagrante de trabalho escravo e, como tal, deve ser tratado”.