Com Marcos Araújo
Na quarta-feira, 6, trabalhadores e trabalhadoras do grupo Bimbo Brasil iniciaram uma greve por tempo indeterminado devido à falta de acordo na proposta de negociação coletiva.
Amalia Antúnez
8 | 11 | 2024
Foto: SITAC
A Rel conversou com Marcos Araújo, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Alimentação de Campinas (SITAC), que representa os trabalhadores da unidade de Jaguariúna.
“A data de negociação com a Bimbo é setembro, então começamos as reuniões nesse mês, mas não conseguimos avançar. A empresa estava inflexível em sua proposta inicial, que não era o esperado pelos trabalhadores e foi rejeitada”, explicou.
A QSR Bimbo é subsidiária da multinacional mexicana e produz para outras grandes empresas como Seara, Sadia e Pullman. Recentemente, adquiriu sua concorrente, a empresa WICKBOLD, que possui quatro fábricas no país, e, em 2021, comprou os ativos da suíça Aryzta, que abastece grandes redes de fast food no mercado local, como McDonald’s, Burger King e Subway.
“O principal ponto de discordância, além do aumento salarial, é que, no ano passado, a empresa, de forma unilateral, alterou o bônus de Natal, que era de cerca de 320 reais, por um kit de Natal cujo valor é sensivelmente inferior”, disse Araújo.
“O que os trabalhadores e trabalhadoras exigem agora é que esse benefício seja retomado”.
Nossa filiada também detectou uma série de irregularidades, como, por exemplo, que a empresa não estava considerando a legislação trabalhista referente aos trabalhadores com contrato temporário.
“Aqui no Brasil, se um trabalhador é contratado por prazo determinado, ele tem os mesmos direitos que os trabalhadores efetivos, exceto indenização por demissão e seguro, mas a Bimbo não estava pagando o mesmo salário nem concedendo os mesmos benefícios a esse grupo de trabalhadores”, denunciou.
Além disso, a empresa também não pagava ao pessoal de manutenção, como mecânicos e eletricistas, os adicionais de insalubridade ou periculosidade. Tudo isso foi gerando insatisfação na equipe.
“O Sindicato fez o possível para negociar com a empresa, cuja última proposta foi um reajuste de 4,5 por cento, amplamente rejeitada pelos trabalhadores. Diante disso, foi avisado que, se não houvesse uma melhoria, iríamos à greve”, detalhou o dirigente.
Foto: SITAC
Como resposta, a Bimbo começou a desacreditar a organização sindical e a negar o que foi decidido em assembleia pelos trabalhadores e trabalhadoras.
“Na quarta-feira, os trabalhadores decidiram paralisar as atividades até que a empresa reveja sua postura, e nós os acompanhamos, mas não fizemos mais nada, nem piquete, nem fechamos portões, nada”.
Contudo, a Bimbo denunciou a greve como ilegal, “valendo-se da figura jurídica de interdito proibitório, que foi negado em três instâncias”, destacou Araújo.
O Tribunal Regional do Trabalho, última instância judicial que declarou a greve como legítima, marcou uma audiência para o próximo dia 12 de novembro.
“Até lá, as atividades permanecerão paralisadas, não será produzido nada. Não estamos bloqueando a saída de produtos, mas chegará o momento em que o estoque acabará. Calculamos que isso ocorrerá em cerca de três a cinco dias, pois essa unidade é a que abastece todo o país”.
Araújo informou que, até o momento, a gerência da Bimbo não se comunicou com o Sindicato, mas tem intimidado e ameaçado os grevistas.
“Para se ter uma ideia da postura desrespeitosa da empresa mexicana, a última proposta de aumento na cesta básica foi de 3 reais, cerca de 50 centavos de dólar, um total desrespeito”.
Além disso ─relatou o dirigente─ ocorreu uma situação com uma colega que estava menstruada e solicitou ir ao banheiro para se higienizar.
O próprio vice-presidente da Bimbo Brasil, Mario Escotero, disse que, se ela havia optado por fazer greve, que esperasse pelo banheiro químico que o Sindicato iria providenciar.
“Essa atitude de uma companhia gigante como a Bimbo é realmente lamentável. É claro que o Sindicato auxiliou a trabalhadora e, posteriormente, providenciou dois banheiros químicos para uso dos grevistas, além de levar alimentos e bebidas para os que estão em frente à empresa”.
Araújo destacou a importância da denúncia internacional contra uma empresa que vende uma imagem muito distante da realidade.
Foto: SITAC