Carlos trabalhava na empresa fazia 15 anos, como técnico em refrigeração, no departamento de operações portuárias da Chiquita Brands. Era responsável pela manutenção e reparação de contêineres usados para transportar frutas.
“No sábado, dia 2 de março, quando cheguei ao trabalho, o ambiente já estava bem pesado. Sabíamos que alguma coisa estava acontecendo, porque durante toda a semana estiveram tirando os contêineres do terminal portuário, e o terreno foi ficando aos poucos vazio.
Nossos chefes justificaram a movimentação, dizendo que era para dar espaço aos 1.000 novos contêineres que chegariam. Com esta explicação, pretendiam deixar todos quietos e tranquilos, entretanto a preocupação aumentava.
Terminei de trabalhar às 3 da tarde e fui embora para cara, descansar. De repente, no domingo, me chegou por WhatsApp um comunicado da Chiquita Brands, avisando que já não tínhamos mais trabalho.
O pior de tudo foi ler no final da mensagem “gratos pela sua compreensão”, que foi sentida como uma enorme ironia.
Depois de tantos anos e de tanto esforço, a empresa nos jogava no olho da rua, com uma mensagem virtual, e ainda pedia a nossa compreensão.
Eu fiquei atônito. Havia rumores de que poderia haver demissões, mas nunca pensamos que fossem chegar ao ponto de fechar o local de trabalho inteiro. Tudo foi muito humilhante e eu me senti bastante indignado pela forma como nos demitiram, violando a convenção coletiva e as leis nacionais.
O mínimo esperável era nos olharem nos olhos e nos informarem da decisão. Mas, preferiram nos tratar como objetos e nos jogar no olho da rua como se fôssemos lixo. Para os proprietários da Chiquita Brands nem peões somos. Somos pecinhas de Lego, que eles podem usar e jogar fora, quando bem entenderem.
Eu dei a minha juventude para esta empresa, mas não valorizaram nada do que eu fiz para eles. Simplesmente, nos descartaram, porque para eles já não éramos mais necessários.
Carlos está casado e tem um filho e uma filha. O mais velho começou neste ano a cursar engenharia na faculdade, já a filha mais nova está fazendo o ensino fundamental.
“Agora, tenho que pensar em que vou fazer, porque em Limón não há trabalho. O pouco que há está totalmente precarizado. Todos estamos na mesma situação. Falamos de milhares de pessoas direta ou indiretamente afetadas por estas demissões imorais.
Felizmente, estamos organizados e vamos lutar por nossos direitos. Desde o momento em que a propriedade da Chiquita passou para as mãos dos brasileiros (Cutrale-Safra), tentaram de todas as formas acabar com o sindicato.
Sem o Sintracobal e sem as alianças estratégicas que o sindicato possui, tanto nacional como internacionalmente, não teria sido possível resistir e nem se fazer respeitar durante todos estes anos”.