A preocupação levantada pelo diretor-geral do órgão das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), José Graziano da Silva, sobre a possibilidade do retorno do Brasil ao Mapa da Fome nos sugere profundas reflexões e nos inquieta quanto à falta de atenção do governo ilegítimo de Michel Temer às políticas sociais e de combate à pobreza e à fome.
O Mapa da Fome é um estudo elaborado desde 1990 pela FAO, que reúne dados e analisa a situação da soberania e segurança alimentar da população mundial.
O Brasil saiu da lista em 2014, após anos de investimento em programas de combate à pobreza, como o Bolsa Família, por exemplo, uma das marcas do Governo Lula.
De 2015 para 2016, o índice de brasileiros e brasileiras que se alimentava com menos calorias diárias que o recomendado aumentou, mas ainda não ultrapassa os 5% que é a margem para “entrar na lista”.
Esse período é caracterizado pelo agravamento da crise econômica no Brasil e, consequentemente, pelo aumento no desemprego.
Além de se preocupar com esse aumento da fome no Brasil, a Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG) preocupa-se, ainda mais, com a divulgação do perfil dos famintos.
Segundo Graziano, “a cara da fome do Brasil é de uma mulher, de meia-idade, com muitas crianças e que vive no meio rural”. Então, trata-se de uma mulher trabalhadora rural, nosso público de representação.
Esse perfil aparece como um desafio se olharmos para o orçamento apresentado pelo governo brasileiro para as políticas públicas voltadas para a agricultura familiar em 2018. Esse corte orçamentário drástico comprometerá social e economicamente a população do campo e a produção de alimentos.
O relatório “Indicadores de Desenvolvimento Global 2016, do Banco Mundial, defende que a segunda meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – acabar com a fome, conquistar a segurança alimentar e promover a agricultura com sustentabilidade – só será cumprida com a elevação da produtividade agrícola das famílias de baixa renda, já que 70% dos pobres do mundo trabalham no campo e pelo fato de a produção de alimentos influenciar diretamente nos números da fome e desnutrição.
O Banco Mundial considera pobre a pessoa que vive com até 1,90 dólares ao dia. E a estimativa é que a pobreza no Brasil atinja entre 2,5 milhões e 3,6 milhões de pessoas até o fim de 2017.
Para evitar o aumento da pobreza extrema, o governo federal teria que aumentar o orçamento do Bolsa Família neste ano para R$ 30,4 bilhões, afirma o Banco Mundial. No entanto, a previsão orçamentária para 2018 para o programa é de apenas R$ 28,7 bilhões.
Portanto, a reflexão que a CONTAG se propõe a fazer com toda a sociedade é como evitar o retorno do Brasil ao Mapa da Fome com este pequeno orçamento, tanto para a agricultura familiar quanto para as políticas sociais após a aprovação da Emenda Constitucional 95, que limita os investimentos, principalmente em educação e saúde?
Vínhamos numa crescente da diminuição da pobreza e da fome em todo o mundo, e o Brasil estava se destacando na região, com as suas políticas sociais servindo de inspiração a outros países.
Precisamos retomar a discussão com toda a sociedade sobre a importância de investir em políticas sociais de inclusão social, combate à pobreza e à fome, de incentivos para a produção de alimentos saudáveis para garantirmos a segurança alimentar da nossa população e a diminuição dos problemas sociais que atingem o campo e a cidade.