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Frigoríficos no Brasil:
moendo gente

Recentemente, um jovem trabalhador morreu enquanto limpava uma máquina em um frigorífico pertencente à empresa BRF na cidade de Toledo no Paraná; Também em um acidente em outro frigorífico no Paraná, uma trabalhadora perdeu uma das mãos, só que a empresa era a Alegra Foods. Já no Tocantins, os trabalhadores denunciam ritmos extremos de trabalho, que tem prejudicado gravemente a sua saúde.

Amalia Antúnez

13 | 06 | 2022


Foto: Gerardo Iglesias

Wagner do Nascimento, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Alimentação de Carambeí (SINTAC) e dirigente da FTIA no Paraná, entrou com uma denúncia ao Ministério Público do Trabalho (MPT) sobre o grave acidente que causou a amputação da mão de uma trabalhadora do setor de cooperativas, de propriedade da empresa Alegra Foods.

“Esta trabalhadora não pertence à nossa base sindical, mas quando fomos notificados do acidente dela e vendo que havia intenções de abafar os fatos, resolvemos entrar na luta.

Já fizemos a denúncia ao MPT e aos meios de comunicação também», disse Wagner em diálogo com A Rel.

No Tocantins, um trabalhador do frigorífico da empresa Plena Alimentos denunciou que sofre de uma grave doença renal, consequência das longas horas sem poder ir ao banheiro, devido à falta de pausas nas linhas de produção impostas pela gerência.

“Plena Sofrimentos”

“Essa denúncia chegou ao Sindicato dos Trabalhadores de Massas, Laticínios, Carnes e Derivados (STIMLACA) de Ponta Grossa, no Paraná, e embora esse trabalhador nem seja do mesmo estado, pegamos o caso dele e estamos protocolando as denúncias correspondentes”, explica Luis Pereira, presidente da organização.

Segundo informações do dirigente, uma série de graves irregularidades ocorreu naquele frigorífico localizado na cidade de Paraíso, destacando-se a total ausência de pausas psicofisiológicas, previstas na NR36, norma que regulamenta o setor de abate e processamento de carnes e derivados.

“Quando o trabalhador nos procurou e começamos a conhecer as condições de saúde e segurança da Plena Alimentos, ficamos surpresos com as inúmeras irregularidades”, conta Luis.

Restrição para ir ao banheiro, para fazer pausas ergonômicas e térmicas, pressão e maus-tratos nas linhas de produção e a não emissão de Comunicação do Acidente de Trabalho (CAT) são algumas das omissões da empresa.

“Muitas vezes os trabalhadores e as trabalhadoras sofrem cortes durante a jornada de trabalho e como a empresa não notifica o ocorrido, eles vão ao hospital por conta própria e arcam com todos os custos do tratamento que deveria ser de responsabilidade da empresa. Isto é absurdo e criminoso”, afirma Luis indignado.

Em vez de ser Plena Alimentos, essa empresa deveria se chamar Plena Sofrimentos, porque é isso que ela faz com os seus trabalhadores. Por exemplo, o caso deste trabalhador que precisa ser operado dos rins e a empresa simplesmente lavou as mãos.”

Um setor com uma alta taxa de sinistralidade

O setor frigorífico emprega cerca de 550 mil trabalhadores e trabalhadoras, sendo uma das atividades com mais acidentes de trabalho de todo o Brasil.

O trabalho é caracterizado por tarefas pesadas, ritmo intenso, baixas temperaturas, umidade, posturas inadequadas, exposição a agentes biológicos, deslocamento de cargas, longas jornadas, entre outros fatores de risco para a saúde humana.

Os trabalhadores e as trabalhadoras dos frigoríficos realizam até 90 movimentos por minuto, quando a recomendação médica é que o limite para evitar doenças seja de até 30 movimentos por minutos, ou seja, três vezes menor.

Dados oficiais indicam que entre 2016 e 2020 houve 85.123 acidentes e doenças ocupacionais no setor, com 64 óbitos.

Os dados reais são ainda mais graves, uma vez que o Ministério do Trabalho e Previdência admite haver uma subnotificação neste setor de 320% aproximadamente.