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Com Cristiana Andrade
“Eu não entrei no sindicalismo
para preencher cota”
Cristiana Andrade é uma atuante dirigente sindical de Pernambuco, trabalhadora da cana-de-açúcar. Durante o encontro de trabalhadoras rurais, assalariadas e agricultoras familiares do Nordeste, realizado recentemente em Natal, ela falou sobre as dificuldades no cumprimento de sua tarefa sindical, sobre as muitas vezes em que quis desistir devido aos obstáculos impostos pelos próprios companheiros; e sobre as razões pelas quais ela continua sendo dirigente sindical.
Amalia Antúnez
09 | 06 | 2022
Cristiana Andrade | Foto: Amalia Antúnez
“Sou assalariada rural do setor da cana-de-açúcar. De fato, sou a única mulher que tem contrato com carteira assinada na Usina Petribu S.A., na zona da Mata de Pernambuco, e desde 2011 sou licenciada pelo sindicato”, começa contando.
Infelizmente, o setor de trabalho rural contrata cada vez menos mão de obra feminina e, a longo prazo, isso acaba gerando uma baixa participação das mulheres na esfera sindical..
“Há uma cláusula na convenção coletiva estadual que exige que as empresas contratem 20% de mão de obra feminina, mas isso não ocorre", lamenta.
Esta questão foi o cerne de sua participação na Oficina Gênero e Direitos Humanos nas Empresas, realizada com o apoio da CONTAR, da Rel UITA e da Oxfam Brasil, no final de maio passado. Rel UITA e da Oxfam Brasil, no final de maio passado.
Não foi fácil para ela se integrar ao sindicato depois que ter sido convidada para fazer parte da direção.
“Quando comecei a comparecer às reuniões sindicais, percebi que tudo era muito diferente da realidade que vivemos no campo como trabalhadoras. Eu não entrei na organização sindical para preencher cota, sem ter voz nem voto”, destaca.
“Entrei no mundo sindical porque a realidade das cortadoras de cana era muito precária e alguma coisa tinha que ser feita a esse respeito. Eu ia lá no campo conversar com minhas companheiras, e assim definir o que exigirmos das empresas. Só que isso, no começo, não caiu muito bem no ambiente sindical”.
Ela conta que havia tanta resistência ao seu trabalho em prol das mulheres, que se sentiu discriminada pelos próprios integrantes do sindicato.
“Houve perseguição e assédio em relação a mim porque eu mobilizava as trabalhadoras para irem às assembleias sindicais, coisa que não era costume fazer. Aí então, a pressão passou a ser tanta que a certa altura cheguei a pensar em desistir do trabalho sindical”, desabafa.
“Mas depois ia lá no campo e via o sofrimento das minhas companheiras e todas as dificuldades que enfrentavam, e com esse sentimento retornava ao sindicato, pois sabia que era lá que eu poderia fazer algo para mudar a realidade dessas mulheres.
Cristiana integra também a Federação dos Trabalhadores e Assalariados Rurais de Pernambuco (FETAEPE) e a CONTAR.
De sua atuação sindical, ela destaca avanços nas negociações de convenções coletivas que garantiram melhores salários e condições de trabalho às trabalhadoras rurais, mas também reconhece que ainda há muito a ser feito.
“Avançamos bastante, principalmente com as trabalhadoras da fruticultura do Vale do São Francisco, mas no setor das cana-de-açúcar da Zona da Mata não conseguimos que as empresas abram vagas para mais mulheres."
De qualquer forma, “incluímos mais companheiras aos sindicatos e isso é uma coisa positiva, especialmente considerando o machismo ainda tão enraizado no ambiente sindical”, destaca.