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Com Jair Krischke
“Estamos vivendo tempos muito difíceis”
O que está acontecendo atualmente no Brasil em termos de direitos humanos e de liberdade é terrível, disse Jair Krischke, presidente do Movimento Justiça e Direitos Humanos (MJDH) e assessor da Rel UITA.
Daniel Gatti
15 | 06 | 2022
Imagem: Carton Club
Jair Krischke se referia, em primeiro lugar, ao possível assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira. Dois corpos encontrados no fim de semana numa região isolada na Amazônia, perto da fronteira com o Peru e a Colômbia, poderiam corresponder a ambos.
Dom Phillips e Bruno Pereira desapareceram em 5 de junho. O governo de Jair Bolsonaro tem sido criticado pela lentidão das buscas e agora pela demora na identificação dos corpos encontrados, bem como em apurar se os rastos de sangue presentes no barco do principal suspeito corresponderiam ou não aos dois homens desaparecidos.
O presidente de extrema-direita comentou ironicamente sobre os dois desaparecidos: "são dois aventureiros" que entraram em uma "região bastante isolada e perigosa, povoada por índios hostis à “civilização branca", disse.
Bolsonaro é “um provocador”, afirma Krischke.
A região onde Phillips e Bruno desapareceram “é povoada por tribos indígenas isoladas, mas lá também há um grande número de garimpeiros, caçadores, madeireiros, contrabandistas”, explicou Jair Krischke. "Há pouco tempo estive naquela região e posso garantir que a vida lá vale muito pouco", acrescentou.
“Os garimpeiros procuram ouro e minerais raros estratégicos debaixo das árvores. Cavam e cavam e usam mercúrio para separar o ouro. Fazem coisas absurdas. Todos os rios da região estão poluídos e essa é uma terra onde qualquer tipo de crime está liberado.”
O principal suspeito dos assassinatos é um morador da região que já havia ameaçado Bruno Pereira, indigenista muito respeitado e que trabalhou na Fundação Nacional do Índio (Funai). Porém, devido ao fato de a instituição ter sido esvaziada pelo governo, substituindo os pesquisadores por militares, Bruno já não trabalhava mais na Funai.
“Bruno era visto como inimigo. Já tinha sido ameaçado de morte e o governo estava ciente disso”, disse Jair Krischke.
Sidney Possuelo, indigenista, ativista social e etnógrafo brasileiro, considerado a maior autoridade com relação aos povos indígenas isolados do Brasil, disse hoje que a Amazônia “está nas mãos de bandidos apoiados pelas ações do presidente da República do Brasil e pela omissão dos organismos que deveriam defender e proteger os povos indígenas e o meio ambiente”.
As empresas agem livre e impunemente no garimpo ilegal, no narcotráfico, no tráfico de armas, de madeira, de animais, peixes, no desmatamento, na queimada da floresta. De seus barcos, eles atiram nos indígenas. Tudo isto me indigna, me faz sentir humilhação e me envergonha”.
Jair Krischke não "consegue entender como um cara como Bolsonaro, que levou o país aos seus piores números em muitos anos em termos de miséria, desemprego, vulnerabilidade social", ainda tem 30% de apoio nas pesquisas para as eleições de outubro.
“Em Brasília está na frente do Lula e no Rio Grande do Sul, estado considerado progressista, estão quase empatados.
“Os partidos políticos já estavam muito fragilizados antes da chegada deste homem ao poder, mas agora estão ainda mais", diz o presidente do MJDH.
As bravatas do ex-sargento do Exército, que já convocou um golpe de Estado em caso de derrota nas urnas e outras maluquices do “mito”, precisam ser "levadas a sério", diz Krischke.
“Ele é uma pessoa que cumpriu com tudo o que disse que ia fazer. Ele não é um louco. Se conseguirá dar um golpe ou não, dependerá de ter força suficiente dentro das Forças Armadas. Por enquanto, a maioria dos comandantes militares não quer embarcar nessa aventura, mas nunca se sabe.