Rumo a uma jornada de trabalho de 13 horas
Velozes e furiosos, os integrantes do governo grego já passaram dos limites em sua gestão pró-empresarial: a mais recente de sua extensa lista de medidas é aumentar a jornada de trabalho para 13 horas. As oito horas garantidas por lei já viraram coisa do passado: desde 2021, a jornada de trabalho já é de 10 horas.
Daniel Gatti
20 | 09 | 2023
Imagem: Allan McDonald
Na metade da primeira década deste século, houve quem chamou a Grécia de “o Chile europeu” por ser o país cobaia do ultraneoliberalismo da Europa.
Os habitantes do pequeno país foram então submetidos pelas instituições financeiras e pelos sucessivos governos nacionais (de diferentes orientações políticas, tanto conservadores quanto social-democratas) às mesmas terapias aplicadas aos chilenos latino-americanos, aliás, também sem qualquer anestesia.
Em apenas cinco anos, o desemprego triplicou, a miséria quadruplicou, 30% da população grega ficou sem assistência médica, outro tanto ficou sem habitação, o já fraco aparelho industrial foi desmantelado, a dívida externa disparou para quase o dobro do PIB, as joias e até os bibelôs das vovozinhas foram privatizados. E a riqueza se concentrou em pouquíssimas mãos como nunca antes.
Exageraram talvez com o espremedor, e a reação social esteve à altura da ação dos governos e das “instituições”.
Lá por 2015, a Grécia também foi cenário de uma batalha, aliás bem épica, entre um governo surgido do movimento social que queria dar um basta nisso tudo e as forças articuladas entre poder econômico, político, social e financeiro.
A batalha foi perdida, o governo se submeteu à pressão ultraneoliberal em todos os aspectos. Nos últimos anos as “forças reacionárias da sociedade e o mais puro obscurantismo capitalista” voltaram com força a Atenas, destemidamente, como assim descreve o lendário líder militante social e político Manolis Glezos, no fim de sua quase centenária vida.
Em 2021, enquanto a Europa pós-pandemia discutia a possibilidade de reduzir a jornada de trabalho, o governo conservador grego já ia pela direção oposta: o horário de trabalho aumentava de oito para 10 horas, aplicava-se um reforma trabalhista restringindo drasticamente o direito à greve, prevendo prisão para quem ocupasse locais de trabalho e eliminando quase completamente as negociações coletivas.
O fato é que os passos já foram longe demais, porque já será possível trabalhar até 13 horas por dia e 78 horas por semana, sem o empregador ter que pagar horas extras.
O partido Nova Democracia, que está no governo, possui maioria absoluta no parlamento, e os líderes do partido parecem não se importar muito com os protestos de rua organizados pelos sindicatos.
“Estamos indo na mesma direção do mundo, só vamos mais rápido do que o restante do mundo”, disse o primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis. “É verdade! Todos em direção à escravidão capitalista!”, respondeu um dirigente sindical.