Luís Pereira dos Santos, presidente do sindicato, falou com A Rel sobre a situação que eles vêm enfrentando há alguns anos e que se agravou nos últimos meses, quando a empresa conseguiu que o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) emitisse uma liminar, proibindo a organização sindical de realizar qualquer tipo de ato na empresa.
“Em 2011, a atual diretoria assumiu o Sindicato, após vencer a disputa contra a direção anterior, a qual, aliás, era totalmente afinada com os interesses da empresa. A partir de então, começamos uma séria tarefa sindical de monitoramento e de denúncias de ações irregulares, bem como de defesa acirrada dos direitos dos trabalhadores”, recorda.
Devido ao fato de a fábrica da BRF cometer uma série de irregularidades com relação às condições de saúde e de segurança dos trabalhadores e de se negar a oferecer um reajuste anual para o bônus alimentação, o Sindicato iniciou uma paralisação que, segundo Pereira, custou muito dinheiro para a empresa
“Desde esta greve, que fizemos em 2012, a empresa declarou guerra à organização sindical e seu último ataque foi denunciar o Sindicato ao TRT, conseguindo que o juiz assinasse um mandato proibindo-nos de realizar qualquer tipo de ato nas imediações da fábrica. Não podemos sequer falar com os companheiros”, alertou.
Aproveitando-se deste mandato, a BRF formou um novo sindicato e assinou um convênio coletivo com essa organização que não representa os interesses dos trabalhadores e trabalhadoras.
“Foi um golpe baixo. Nos deram um xeque-mate, porque o mandato judicial chegou em meados de dezembro passado, poucos dias antes de começarem as férias judiciais, impedindo-nos de apelar e nos impondo multas se não cumpríssemos a ordem judicial”, denunciou.
Para piorar a situação, o Ministério Público do Trabalho (MPT) vem arquivando todas as denúncias realizadas pelo sindicato.
O atual procurador, Helder José Mendes, é um antigo funcionário da BRF, o que explicaria a inoperância do MPT diante das ações indevidas da transnacional.
“Não somos um Sindicato problemático, simplesmente somos combativos, exigimos nossos direitos e buscamos melhorar as condições de nossos companheiros e companheiras na unidade”, explicou Pereira.
“Se a empresa não cumpre com as normas de saúde e de segurança estipuladas, deve ser denunciada por nós ao MPT. Mas essas empresas não aceitam um sindicato como o nosso”.
Pereira lembra que recentemente ganharam um processo na justiça contra a BRF, que será obrigada a pagar uma cifra milionária por danos e prejuízos coletivos a cerca de 3 mil trabalhadores e trabalhadoras.
“Em 2011, iniciamos uma ação judicial coletiva contra a empresa por não incluir na jornada de trabalho os 20 minutos para a troca de uniforme. Há alguns dias, saiu a sentença favorável aos trabalhadores. A multa foi de 20 milhões de reais”.
Pereira denuncia também a atitude da direção da empresa, a cada dia mais agressiva, principalmente contra as mulheres, as mais prejudicadas.
“Os casos de perseguição às grávidas são os mais gritantes. Despediram uma funcionária com 8 de meses de gestação, alegando justa causa e pressionaram outra a renunciar, com seu bebê no CTI, porque estava faltando muito”.
Por outro lado, o dirigente sindical destaca o fato de haver funcionários com mais de 30 anos trabalhando para a empresa, que não ganham mais do que 1.500 reais.
“É preciso que a comunidade internacional saiba como a proprietária da marca Sadia trata os seus trabalhadores e suas trabalhadoras, como despreza a organização sindical e como não valoriza os trabalhadores, produtores de sua riqueza”, concluiu.
A fábrica da BRF em Ponta Grossa emprega 800 funcionários e produz comidas rápidas, lasanhas e pizzas.