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Com Rosecleia Castro, a propósito da oficina sindical centrada na problemática LGBTI
“É urgente passar à ação”
A Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Indústria de Alimentos de São Paulo (Fetiasp), com o apoio do Comitê Latino-Americano da Mulher da UITA (Clamu), está organizando uma oficina para a comunidade LGBTI, datada para o final de julho. Em relação aos objetivos e expectativas deste trabalho, conversamos com Rosecléia Castro, que está à frente da organização.
Em São Paulo, Gerardo Iglesias
19 | 05 | 2022
Rosecleia Castro | Foto: Gerardo Iglesias
-Quais são os objetivos da oficina?
-Em primeiro lugar optamos fazer uma oficina por ser um assunto pouco discutido no ambiente sindical. Queremos esclarecer as dúvidas dos companheiros e das companheiras que participarem, oferecer mais informações e nos abrir ao debate.
Sabemos que não será uma questão fácil de trazer para os sindicatos, pois se já é difícil para as mulheres trabalhadoras, imagine para as pessoas LGBTI, que atualmente não têm nem representação, ou se têm, não passa de 2% em cargos de diretoria sindical.
Será um grande desafio, e sabemos disso desde o início, quando o assunto foi discutido dentro dos sindicatos da Fetiasp.
Este é um trabalho que estamos desenvolvendo, indo de organização a organização, há um ano, conversando com os trabalhadores, com as trabalhadoras e com os dirigentes.
À medida que avançamos nas questões LGBTI, surgem casos, pessoas e familiares interessados em saber mais e em se informar e em querer conversar sobre diversas questões de gênero, o que, por incrível que pareça, ainda é um assunto tabu no ambiente sindical.
A oficina da Fetiasp buscará quebrar barreiras. Sempre menciono nas reuniões do Clamu: devemos começar a agir e parar de ficar apenas no apoio moral.
-A Federação teve a sensibilidade de abrir este espaço para o debate...
-Felizmente teve sensibilidade, sim. Quando começamos há cerca de três anos a abordar a questão da comunidade de gênero diverso na esfera sindical, encontramos várias barreiras, que fomos driblando passo a passo, num trabalho de formiguinha.
Se não tivéssemos tido o conhecimento que adquirimos graças às atividades realizadas pelo Clamu, das quais participamos, não sei se poderíamos organizar esta oficina hoje.
O Comitê foi essencial para que nos empoderássemos, compreendêssemos o assunto e pudéssemos realizar qualquer tarefa relacionada às pessoas LGBTI em nossos ambientes, sindicais e trabalhistas.
Recebemos treinamento e hoje estamos prontos para colocar em prática o que aprendemos.
-Quais expectativas você tem para esta oficina?
-Espero que todos, como sindicalistas, façam sua parte na divulgação do assunto, nas portas de fábricas se necessário, para que a comunidade LGBTI não seja mais invisibilizada. É incrível que quando lidamos com a questão da diversidade de gênero, sintamos que isso é interpretado como se fosse um crime, o que é inaceitável hoje em dia. De fato, deveria ser inaceitável em qualquer época da humanidade.
É preciso falar de assuntos relacionados aos trabalhadores e às trabalhadoras LGBTI com naturalidade, menos preconceito e de cabeça aberta.
-A presença e a participação da Gisele Adão como dirigente sindical e ativista pelos direitos LGBTI é importante para este trabalho que vocês estão promovendo como Federação?
-Não é importante, é fundamental. Ela representa um antes e um depois em nosso trabalho sindical. Embora eu já estivesse interessada em colocar as questões LGBTI em pauta, ao conhecer a Gisele e a sua experiência de vida, passei a considerar essa questão como determinante e inadiável.
Então conheci o Eduardo (Medeiros) e eles dois foram e são nossos exemplos. E, de certa forma, nossos guias, quando queremos abordar questões relacionadas com a diversidade de gênero nos sindicatos, a partir de uma perspectiva humana e atual.