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Novo megaestudo científico prova a periculosidade do glifosato

E mesmo assim não é retirado

Um novo estudo independente realizado em grande escala sob a responsabilidade do Instituto Ramazzini da Itália ratifica o que já muitos outros haviam avançado: que o glifosato pode gerar diversos tipos de câncer.

Daniel Gatti

17 | 6 | 2025


Foto: Gerardo Iglesias

A investigação, “a mais completa realizada até hoje sobre o glifosato a partir de animais de laboratório”, segundo a filial europeia da Rede Internacional de Ação em Praguicidas, determinou que a exposição ao glifosato pode ser causante de leucemia e outros tipos de câncer, e isso em distintos níveis de exposição a esta substância, inclusive inferiores aos habituais neste tipo de experiencias.

Para a realização do estudo, que durou seis anos e envolveu dez institutos científicos de diferentes países liderados pelo Ramazzini na Bolonha, foram utilizados mais de 5.000 ratos de laboratório. A uma parte deles se deu glifosato ao nascer, à outra não.

Quase a metade dos roedores contaminados contraíram leucemia e morreram antes de um ano de vida, o que corresponde entre 35 e 40 anos em humanos. Os que não estiveram em contato com a substancia, ao contrário, permaneceram saudáveis.

Um ponto a destacar deste estudo – publicado em 12 de junho na revista científica revisada por pares Environmental Health- “é uma grande variedade de órgãos afetados por aqueles animais contaminados: fígado, pele, rins, bexiga, útero, baço, glândulas mamarias”, comentou ao portal francês Médiapart o biólogo italiano Daniele Mandrioli, que coordenou o estudo.

Outro: que os casos de leucemia apresentaram inclusive em animais expostos a doses baixas da substancia, consideradas até agora como não perigosas aos seres humanos.

Os cientistas expuseram aos roedores não somente ao glifosato puro; mas também aos produtos comerciais que contém, como o Roundup Bioflow ou Ranger Pro, os herbicidas mais utilizados nos campos agrícolas de todo o mundo, que seus fabricantes apresentam como inofensivos.

Confirmação

A condução de Mandrioli é taxativa: “Nossa investigação confirma definitivamente a famosa avaliação de 2015 do Centro Internacional de Investigação sobre o Câncer (CIRC)”, dependente da Organização Mundial da Saúde, que identificou o glifosato como “uma substancia cancerígena para animais de laboratório e possivelmente cancerígena para os humanos”.

“E não é o somente o CIRC. Existem muitos estudos que foram no mesmo sentido e determinado a carcinogenicidade da molécula”.

Lo que le confiere una validez adicional a este estudio, declaró el biólogo italiano, es que el laboratorio de toxicología del Instituto Ramazzoni “es el más grande de Europa y el segundo en el mundo en cuanto al número de productos analizados para determinar su carcinogenicidad: más de 200”.

Independentes e não

O fato de que se trata de instituições científicas independentes, sem nenhum laço com as indústrias que fabricam os produtos à base de glifosato, a diferença de outros laboratórios que sim possuem e que são endossados por organismos estatais para “disfarçar” esta e outras substâncias presentes nos agrotóxicos.

No final de 2023, por exemplo, a União Europeia prolongou por dez anos a autorização do glifosato na agricultura com base nas conclusões da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) fundamentadas em estudos severamente questionados por cientistas independentes.

“Não existem provas” de que os produtos com base no glifosato sejam prejudiciais para os humanos, havia afirmado a EFSA.

Em 2021, no entanto, o Instituto Nacional de Saúde e de Investigação Médica (INSERM) da França havia encontrado vínculos diretos entre a exposição ao glifosato e casos de linfomas No Hodgkin.

Dois anos antes, a mesma instituição estatal havia encontrado que nos trabalhadores agrícolas expostos ao glifosato o risco de contrair câncer aumentava 40 por cento em relação aos que não haviam tido contato com a substancia.

“Esperamos que os resultados deste último estudo iluminem aqueles que devem tomar decisões, não somente na Europa, mas sim no mundo inteiro. Nós fornecemos evidências, mas não somos nós que decidimos”, disse Mandrioli.