Com Pablo Moyano
Chegamos ao escritório do secretário adjunto do sindicato dos Caminhoneiros depois da jornada do dia 1º de maio. Ele nos recebe de forma amigável. A pesar do diálogo ter sido descontraído, é evidente que ele não sabe exatamente qual é o motivo de nossa visita. No preâmbulo, lembro que estivemos com os colegas da Federação Argentina de Águas Gaseificadas (FATAGA) nas manifestações contra o plano de demissão da Cervejaria Quilmes (AmBev) naquele gélido abril de 2009. A partir daí, ao recordarmos esse dia e o frio infernal, um clima diferente e amigável se instala.
Gerardo Iglesias
9 | 5 | 2024
Pablo Moyano, secretário adjunto Caminheiros | Foto: Nelson Godoy
-¿Você imaginava que a Argentina chegaria à situação na qual se encontra atualmente?
-Antes do governo atual assumir o poder, durante a campanha eleitoral, fazíamos assembleias com os trabalhadores e as trabalhadoras, como todas as organizações sindicais, advertindo a ele o que iria acontecer se ganhasse a ultradireita: uma reforma trabalhista selvagem, reforma da aposentadoria, privatização de empresas do Estado. Tudo isso era previsível.
Infelizmente, aconteceu o previsível: uma terrível recessão, suspensões de trabalhadores e trabalhadoras, inflação incessante, os alimentos não chegam aos bairros mais pobres, as aposentadorias sendo pagas em parcelas…um cenário que antecede a um grande conflito social, o que já está acontecendo.
As mobilizações populares e operárias são cada vez mais numerosas, como ocorreu com a manifestação em defensa da educação pública. Eu já participei de muitas mobilizações e nunca vi tanta gente como no dia 23 de abril, quando a sociedade civil foi às ruas junto com estudantes e professores.
A mesma situação aconteceu novamente neste 1º de Maio. Há muitos anos que a CGT não marchava nesta data, e foi multitudinário. É esperado que seja a antessala da grande mobilização que está sendo organizada para o próximo dia 9 com greve nacional. Será histórico.
Esperamos que o governo perceba a grande insatisfação presente no conjunto da sociedade, e que o Parlamento o leve em consideração quando for tratar novamente a lei ônibus. Se algum senador ou senadora tiver dúvidas, que escute o povo argentino.
-Quais são as razões pelas quais você acredita que Javier Milei chega ao governo?
-Em primeiro lugar, devemos fazer uma autocrítica como peronistas e reconhecer os erros que cometemos, como não ter conseguido controlar a inflação, as disputas internas que transbordaram para a esfera pública, as divisões e personalismos, mas principalmente não ter conseguido alcançar os setores populares com propostas, com soluções para os aposentados, entre outras coisas.
-E como a situação dentro do peronismo pode ser mudada?
-Com um grande debate interno, um congresso onde todos os dirigentes que temos responsabilidades se reúnam, digam tudo a nós mesmos e saiam para a sociedade com uma nova proposta, com pessoas novas.
No próximo ano haverá eleições legislativas e o peronismo terá que recuperar a maioria em ambas as câmaras para que não ocorra o que está acontecendo hoje, que leis que prejudicam o povo estão sendo aprovadas.
-Podemos dizer que se há algo positivo neste governo é que propiciou a unidade de ação na CGT e no movimento trabalhista.
-A CGT assumiu um papel protagonista na tentativa de frear toda essa política de ajustes e aumentos de tarifas. Estávamos divididos, lutando por setores, mas neste momento, quando é necessário, estamos unidos.
Acredito que se o peronismo seguisse o exemplo do movimento trabalhista, que recebeu reconhecimento de outros setores que têm acompanhado a CGT nas ruas, a história seria diferente.
-Será possível sair desta situação calamitosa...?
-Haverá muita conflitividade social antes por conta da recessão crescente e porque os números da inflação estão sendo maquiados.
Como se não bastasse, se esta Lei de Bases for aprovada —que traz consigo uma reforma trabalhista regressiva que este governo disse que fez em acordo com a CGT, uma grande mentira— a situação social será terrível.
Além disso, estou convencido de que as pessoas votaram neste governo com raiva e nunca imaginaram o que realmente iria acontecer.
Temos o exemplo do Brasil, onde foi possível sair de um governo como o de Jair Bolsonaro. Portanto, há esperança, tenho esperança, também porque cada vez mais pessoas se juntam às marchas, muitas dessas pessoas que votaram no Milei.
Devemos reivindicar o peronismo do lado do povo, para não acontecer como agora, que fazem campanha com as bandeiras de Evita e Perón e uma vez no Parlamento esquecem disso e votam leis que são contra o povo trabalhador.
Gerardo Iglesias, secretário regional UITA; Daniel García, Rel UITA e Pablo Moyano | Foto: Nelson Godoy