Com Jair Krischke
Bolsonaro à beira da prisão
O ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, “sabe que vai ser preso e está adaptando seu discurso”, disse para a Rel o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Brasil e assessor da Rel UITA, Jair Krischke.
Daniel Gatti
29 | 2 | 2024
Jair Krischke | Foto: Gerardo Iglesias
“Já não é mais aquele cão doberman que tentava intimidar a justiça, que ameaçava não cumprir as decisões judiciais. Agora ele quer se passar por um filhotinho aos braços das damas da alta sociedade, deixando de lado o seu tom desafiador”, afirmou Jair.
“Está cercado, e o presidente do STF, Alexandre de Moraes, está determinado a cozinhá-lo a fogo lento, com paciência. Aliás, ele sabe disso”.
A justiça acusa Bolsonaro de estar por trás de uma organização criminosa que tentou impedir Luis Inácio Lula da Silva a assumir a presidência após sua estreita vitória eleitoral de 2022 e de estar envolvido nos ataques de 8 de janeiro de 2023 em Brasília.
Ele já teve que comparecer a seis intimações, a última na semana passada nas dependências da Polícia Federal, onde permaneceu por alguns minutos e se recusou a depor. Da mesma forma atuaram outros ex-militares acusados junto a ele.
Por ordem do STF, o passaporte de Bolsonaro foi confiscado.
No último domingo(25), o ex-presidente organizou uma demonstração de força convocando uma manifestação de apoio na Avenida Paulista.
“Foi muita gente, sem dúvida”, admite Krischke. Não houve uma avaliação oficial do número de participantes, mas a imprensa estima em “milhares e milhares de pessoas”, já o Monitor do Debate Político no Meio Digital, projeto de pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), calculou que cerca de 185 mil pessoas estavam na avenida durante o pico do protesto.
A diferença dos outros atos públicos, nos quais ele aparecia confiante, neste ele se mostrou na defensiva e utilizou a maior parte de seu discurso para tentar demonstrar que nunca foi golpista e que o ocorrido em 8 de janeiro do ano passado foi apenas uma manifestação de protesto.
“Os golpes são dados com tanques e ali não havia tanques”, disse Bolsonaro em seu comício em São Paulo. “Me acusam de golpe. Um golpe apelando à Constituição? Busco a pacificação para apagar o passado”.
“Agora ele quer se mostrar como alguém razoável, quando há uma enormidade de provas contra ele, documentos, conversas, declarações que demonstram que ele quis derrubar o governo”, apontou Jair.
“Foi a foto de um Bolsonaro tremendo, pois ele está consciente do que lhe aguarda”.
O ex-presidente também exigiu anistia para as pessoas detidas por sua participação no dia 8 de janeiro de 2023, incluindo ex-militares e policiais. “Ele defende os seus, isso sim”, comentou Krischke, “mas demonstrou, com essa exigência, seus vínculos com os ataques“.
”Se há algo que o ex-militar do Exército brasileiro conseguiu em São Paulo na semana passada foi exibir seu poder de convocação popular”.
“É verdade que ele tem esse poder”, enfatizou Krischke. “Assusta um pouco ter visto tanta gente em São Paulo. As pesquisas indicam que o bolsonarismo mantém um apoio de 25 por cento do eleitorado. É muito. Pode haver até um bolsonarismo sem Bolsonaro”.
“Dava um pouco de medo também ver o fanatismo dessas pessoas, suas referências religiosas. Falou-se muito de Deus, de destinos manifestos, de vontades divinas. E de pátria e família”.
Um dos organizadores do ato foi Silas Malafaia, um pastor neopentecostal rico que, segundo a mídia, arcou com os custos do evento e referiu-se a Bolsonaro como “vítima da maior perseguição política na história do Brasil”.“Entre os oradores esteve a ex-primera dama Michelle, também pastora evangélica“.
“O Senhor nos agraciou ao nos colocar à frente da nação. Que Deus queira nos colocar à frente da Presidência da República. O Senhor ama a verdade e odeia a iniquidade”, gritou Michelle de uma plataforma erguida no teto de um ônibus.
“Ela também disse: 'Amamos a Israel, em nome de Jesus, amém. Nos abençoamos, abençoamos a Israel”.
Enquanto o pai falava em São Paulo, o filho politicamente mais ativo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, estava em Washington participando da maior conferência mundial anual de organizações conservadoras, a CPAC.
Naquela festa da extrema-direita internacional, onde também estiveram o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o presidente argentino Javier Milei, seu homólogo salvadorenho Nayib Bukele e o espanhol Santiago Abascal, Eduardinho conseguiu que fosse emitida uma declaração de apoio ao seu pai e de condenação “às táticas de estado policial de Lula da Silva”.
Lá costumam se mostrar como são: dobermans e não filhotinhos, lobos e não cordeirinhos.