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Pesquisa denuncia transnacionais que controlam a produção de soja

Cúmplices na contaminação do meio ambiente e na violação dos direitos humanos

No Paraguai, a indústria da soja está relacionada com o despejo das comunidades indígenas, com a contaminação do meio ambiente, com diversas doenças nas populações adjacentes e com a repressão policial, afirma um estudo da ONG Global Witness.

Gerardo Iglesias

12 | 12 | 2022


Foto: Gerardo Iglesias

O Paraguai é o quarto exportador mundial de soja, “mas como, neste caso, o desmatamento já aconteceu em grande escala entre 1973 e 2000, o que ocorre nesta indústria não chama tanto a atenção”, diferentemente do Brasil, disse Toby Hill, pesquisador da ONG Global Witness, de acordo com uma matéria do jornal espanhol El País.

As empresas europeias e norte-americanas “fizeram vista grossa” sobre esta situação, afirma o relatório “Comidas contaminadas: como a indústria do setor das carnes da Europa contribui para os abusos contra os direitos humanos no Paraguai”.

A Global Witness sugere haver envolvimento das transnacionais Cargill e ADM, responsáveis por 40 por cento das exportações de soja do Paraguai, nos ataques às comunidades indígenas com as que disputam a propriedade das terras onde se cultiva o chamado “ouro verde”.

No El Cerrito, Alto Paraná, “a polícia despejou a comunidade em três ocasiões, com tiros e gás lacrimogêneo, visando a expulsá-los. Mais tarde, queimaram suas casas e seu templo, destruíram suas plantações e mataram seus animais”, denuncia o relatório.

“Após o terceiro despejo, em maio ide 2022, os membros da comunidade ficaram sem sua terra para morar”.

Investigações inexistentes

As pulverizações feitas nas plantações, realizadas frequentemente em condições irregulares, causaram intoxicações e “envenenamento químico”, garante Hill.

“Uma pesquisa feita por fiscais do Ministério do Ambiente revelou uma série de violações” às leis paraguaias, como plantações de soja em regiões adjacentes com população, e as pulverizações contaminaram a água dos habitantes, que viram sua saúde afetada.

“Graças à análise da água do poço que a família Portillo – que viu um de seus integrantes falecer – encontrou-se endosulfan, aldrin e lindano, agrotóxicos proibidos ou de uso controlado no Paraguai”, destacou a Global Witness.

Devido ao fato de autoridades nunca terem investigado este caso, elas foram condenadas em 2019 pelo Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas.

“Há um risco estrutural” de que as empresas ocidentais que compram a produção de empresas locais acusadas destes crimes estejam recebendo a sua soja dessas granjas”, disse o autor do relatório, Jago Wadely.

“Com relação às empresas que vendem a carne para o consumidor”, afirma a matéria do El País, “Wadely assinala que os exportadores de soja têm uma estratégia muito hábil para gerar essa confusão: misturar soja de granjas certificadas com a de granjas onde ocorrem as violações dos direitos humanos”.

“Os supermercados e o varejo estão tentando entender. As empresas do setor das carnes também. Entretanto, os comerciantes de soja são uma caixa preta. Só eles sabem de quem compram e para quem vendem, cientes que misturam tudo. Mas, não querem a transparência que os consumidores e varejistas querem”, afirmou.