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No dia 15 de março, o Sindicato dos Trabalhadores da Alimentação de Marília (STIAM) organizou um painel de discussão online como parte das comemorações do Dia Internacional da Mulher.
Amalia Antúnez
22 | 3 | 2024
Mural | Dercein | Ciudad Montevideo, Uruguay | Foto: Gerardo Iglesias
O encontro, moderado por nossa colega Silvana Batagliotti, técnica em Segurança do Trabalho e membro da Secretaria da Mulher do Sindicato, discutiu o tema da igualdade de gênero nos ambientes de trabalho e doméstico.
A psicóloga Camila Mugnai, professora da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e membro do Coletivo Mulheres de Marília foi a palestrante, sendo a abertura foi realizada pelo presidente do STIAM, Wilson Vidoto.
Embora pareça algo que todos deveriam saber nesta altura da história, Silvana iniciou o painel perguntando por que celebramos o dia 8 de março.
Para Camila, infelizmente, a data tem perdido seu verdadeiro significado.
Ela apontou que “o dia 8 de março tem sido banalizado como uma ocasião para parabenizações, presentes, flores ou elogios equivocados sobre a aparência feminina”.
“Mas não podemos perder de vista que o Dia Internacional da Mulher tem suas raízes na luta das mulheres trabalhadoras por seus direitos”, enfatizou.Mugnai realizó una recorrida sobre los posibles hechos históricos que dieron origen al 8 de marzo, enfatizando sobre la importancia de su relación directa con la lucha de las trabajadoras por mejores condiciones laborales y salariales para luego pasar al tema central del conversatorio: Igualdad de género.
Para analisar este tópico, a psicóloga começou esclarecendo o conceito de gênero, como o conjunto de normas ou atributos sociais pelos quais os homens e as mulheres são reconhecidos.
“O gênero determina o que é esperado, permitido e valorizado em uma mulher ou homem em um contexto específico. Estamos constantemente criando padrões de como ser ou se comportar; esses são os papéis de gênero. Em seguida, há a minha identidade de gênero, que é como me vejo e me identifico na sociedade”, disse.
E acrescentou: “quando falamos de igualdade de gênero, vemos que desde muito cedo incutimos nas crianças quais comportamentos devem ter para serem identificados como meninos ou meninas”.
E usou como exemplo as lojas de brinquedos: “Basta entrar em uma para ver essa desigualdade impressionante: para as meninas, encontramos bonecas, cozinhas, eletrodomésticos variados, preferencialmente na cor rosa, e, por outro lado, na seção para meninos, encontramos bonecos de ação, armas, bolas, carros, dinossauros”.
O exemplo ilustra como a sociedade ensina que há coisas de meninos e coisas de meninas, gerando essas diferenças que depois se transformam em desigualdade.“Socialmente vamos incorporando a ideia de que as meninas devem ser mais obedientes, cuidar da casa, ser princesas, e são incentivadas a realizar certas atividades. E o menino é criado para ser inteligente, corajoso, e estimulado a reagir quando provocado”, disse.
Dessa forma, de maneira sutil, a sociedade “diz às meninas que há coisas ou atividades que elas não podem fazer, tanto em termos de estudos quanto de trabalho ou profissões. Essa forma de organização social é o que conhecemos como patriarcado e fomenta a desigualdade de gênero”, explicou.
Reverter essa desigualdade ainda é o desafio de muitos coletivos, especialmente dos movimentos feministas e sociais, incluindo o movimento operário.“Construir igualdade de gênero é uma luta diária e implica igualdade e equidade de direitos. Não se trata de uma luta contra os homens, mas sim da busca por uma sociedade mais justa para todos os seres humanos”, destaca a psicóloga.
Para Camila Mugnai, no Brasil houve avanços em muitos aspectos em relação à igualdade de direitos. No entanto, as conquistas nesse campo nunca estão completamente asseguradas.
“Como disse Simone de Beauvoir: basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados”.
A professora enfatizou que todas as conquistas das mulheres são fruto da luta de muitas que nos precederam. “Nenhum homem um dia se levantou e disse: que as mulheres votem hoje, ou que haja uma pílula para o controle da natalidade”, afirmou.
“E muitas vezes vemos mulheres questionando por que precisamos fazer uma marcha no dia 8 de março, se já podemos trabalhar fora de casa, votar, etc. Bem, precisamente porque não estamos falando de casos individuais, mas sim de uma luta coletiva”, explicou.Há muitos países no mundo onde ainda é negado às mulheres o direito de estudar, onde a mutilação genital é legal, onde não podem mostrar certas partes do corpo. A igualdade ainda está longe de ser alcançada.
Quanto à participação das mulheres na política, no acesso a cargos de liderança em empresas e também em cargos sindicais, a psicóloga lembrou que devido à forma como a sociedade está organizada e ao papel ainda atribuído às mulheres no imaginário coletivo, são inúmeras as barreiras que precisam enfrentar.
“Para dar um exemplo: as mulheres representam mais de 50% do eleitorado e nunca ultrapassamos os 15% dos cargos elegíveis”.
O painel também abordou outro tema preocupante: os altos índices de feminicídio, geralmente perpetrados por parceiros, ex-parceiros ou algum familiar direto.
“Ainda se enxerga a mulher como um objeto que posso usar, descartar ou eliminar, porque é isso que a cultura patriarcal nos ensina, e ainda quando as mulheres são vítimas de violência, questionam-se suas roupas, por que estavam na rua naquela hora, e coisas do tipo”.
“Qual é o grande desafio?”, perguntou Camila Mugnai: “romper o esquema de que o lugar da mulher é em casa, mesmo que trabalhem fora e estudem. A educação em equidade é o caminho para essa mudança”.