Brasil | SINDICATOS | LÁCTEOS

A Lactalis e sua política de pedir muito e não dar nada

Benefícios para os de sempre

O sindicato patronal do setor de laticínios busca obter maiores benefícios fiscais. No entanto, uma das maiores empresas do setor, a Lactalis, nega aos seus funcionários um reajuste salarial decente.

Amalia Antúnez

27 | 04 | 2022


Foto: Gerardo Iglesias

A transnacional francesa mantém uma postura completamente intransigente em relação à assinatura de acordos coletivos decentes com os sindicatos.

No Rio Grande do Sul, a empresa também é administrada pelo presidente do sindicato patronal, o Sindilat, que há anos luta para obter benefícios fiscais do governo estadual.

Devido a uma crise no setor de laticínios em 2014, o governo do Rio Grande do Sul decidiu conceder incentivos na forma de créditos fiscais para empresas que atuam no estado.

Naquele ano – segundo estudo realizado pelo Departamento de Economia e Estatística – o Grupo BRF, insatisfeito com as baixas margens da divisão de laticínios, anunciou sua saída do mercado, o que resultou na venda de suas unidades industriais e na transferência das tradicionais marcas Elegê e Batavo para a Parmalat, empresa do grupo francês Lactalis.

Um poder enorme

O acordo envolveu a venda de 11 unidades, sendo cinco localizadas no Rio Grande do Sul: Ijuí (queijo), Três de Maio I (queijo), Três de Maio II (leite em pó), Santa Rosa (doce de leite, requeijão, leite pasteurizado) e Teutônia (leite condensado, manteiga, leite aromatizado, leite em pó, UHT e leites especiais).

A Lactalis é a maior empresa de laticínios do mundo e, antes da aquisição da divisão de laticínios da BRF, havia comprado quatro fábricas da Lácteos Brasil (LBR), além do direito de uso da marca Parmalat no país.

Em 2016, anunciou a transferência de sua sede no Brasil para o Rio Grande do Sul, em um acordo com o governo estadual que também previa investimentos de mais de 100 milhões de reais (pouco mais de 20 milhões de dólares).

Agora a Lactalis se recusa a dar sequer o IPC como reajuste aos seus trabalhadores e trabalhadoras..

Tudo para mim e nada para você

Segundo a imprensa, os empresários do setor participarão na quarta-feira, 27, de uma audiência pública na Assembleia Legislativa para pressionar os parlamentares locais a rever a política de incentivos fiscais.

Uma matéria publicada no jornal Correio do Povo indica que, além de negociar uma nova tabela de preços com os produtores de leite, os empresários buscarão ter acesso a 100 por cento do crédito fiscal, que até agora está condicionado a empresas beneficiárias comprarem insumos apenas dentro do estado.

O presidente do Sindilat e gerente da Lactalis em Três Arroios disse que as empresas que produzem leite longa vida (UHT) e leite condensado não estão cobertas pelo benefício porque devem comprar as caixas fora do Rio Grande do Sul.

Os dirigentes sindicais que integram os grupos de negociação com a transnacional lamentam não ter tido conhecimento da Audiência Pública para poder denunciar a posição antioperária e antissindical da Lactalis.

Buscam mais incentivos fiscais e negam aos seus trabalhadores um reajuste que mal cobre as perdas com a inflação. E nem pensar em darem um aumento real”, disse Silvio Ambrozio, dirigente da Federação dos Trabalhadores da Alimentação do Rio Grande do Sul.