Ambev y sus transformaciones
A transnacional brasileira Ambev, subsidiária da belga Anheuser-Busch InBev (AB InBev), a maior cervejaria do mundo, vem reduzindo sistematicamente sua força de trabalho, ao mesmo tempo em que cresce em receita e vendas e investe cada vez mais em tecnologia.
Ernesto “Tito” Zelko - Daniel Gatti
25 | 9 | 2025

Foto: Gerardo Iglesias
Segundo dados da própria transnacional, entre 2019 e 2024 o número total de empregados na América Latina foi reduzido em cerca de 10 mil pessoas, o que representa uma queda de 20%.
O único ano desse período de seis anos em que os postos de trabalho aumentaram foi 2021, quando chegou a ter 52.806 trabalhadoras e trabalhadores em sua equipe, 4,6 por cento a mais que em 2020, provavelmente devido a um fenômeno de expansão pós-pandemia. Todos os demais anos registraram retração.
Em 2020, já havia ocorrido uma redução em relação a 2019, e a tendência foi contínua a partir de 2022: 47.108 empregados naquele ano, 10,8% a menos que o recorde do ano anterior; 42.774 em 2023 e 42.167 em 2024.
A leve queda entre 2023 e o ano passado indicaria uma certa estabilidade operacional.
As reduções de postos de trabalho em 2022 e 2023, as mais significativas, coincidiram com pressões por rentabilidade e automatização no Brasil.
Paralelamente, o volume vendido vem crescendo ano após ano desde 2021, quando a Ambev comercializou 180,3 milhões de hectolitros nos 18 mercados em que atua (17 na América Latina e no Canadá).
Em 2022, passou para 185,7 milhões de hectolitros; em 2023, para 186 milhões; e para 2024 estima-se que chegue a 190 milhões de hectolitros comercializados.
No primeiro trimestre deste ano, embora as vendas tenham caído em mercados como o canadense e o da América Central e Caribe (4,2 e 4,9 por cento, respectivamente), aumentaram no Brasil — que concentra 55 por cento das vendas totais — e na América do Sul (Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Chile), com crescimentos de 1,4 e 1,1%, respectivamente.
Nesses dois últimos mercados (Brasil e o bloco sul-americano), a receita da Ambev subiu 4,6 e 19,5%.
É justamente nesses mercados que o aumento do nível de produtividade da transnacional se torna mais visível, resultado da combinação entre a redução no número de empregados e o crescimento das vendas.
O aumento dos dividendos pagos aos acionistas (de US$ 0,49 por ação em 2020 para US$ 0,79 em 2024) é outra tendência, que também aponta para uma concentração dos lucros no capital em detrimento do trabalho.
Os cofres da empresa também não pararam de se encher.
Segundo seus relatórios anuais, a receita bruta foi de 89,453 bilhões de reais (cerca de 14,5 bilhões de dólares), 53,22 por cento a mais que em 2020, e o EBITDA (indicador utilizado para medir a rentabilidade operacional da empresa) chegou a 26,715 bilhões de reais — 4,316 bilhões de dólares — representando 30% da receita total.
A transnacional criou recentemente uma divisão de tecnologia, a Ambev Tech, que conta com 2 mil colaboradores distribuídos entre Brasil, Argentina e modelo remoto.
Seu objetivo é o desenvolvimento de softwares para logística, vendas e produção, além da criação de uma plataforma digital de vendas para pequenos comércios, bares e distribuidores chamada Bees.
No Brasil, mais de 85% dos clientes ativos operam por meio dessas plataformas, que permitem à empresa reduzir os custos de intermediação.
A empresa já desenvolveu aplicativos para entrega direta de bebidas ao consumidor final e criou algoritmos para otimizar rotas de entrega.
Paralelamente, pretende construir o que chama de “ecossistema de inovação”, que inclui mais de 350 startups interconectadas, 12 hubs de inovação e aceleradoras.
Nem todos esses desenvolvimentos resultarão necessariamente em cortes de empregos, já que, embora áreas como a distribuição tradicional sejam afetadas, também surgem oportunidades em suporte técnico, análise de dados e formação tecnológica.
Pode haver, sim, uma reestruturação de tarefas desfavorável para os trabalhadores, assim como impactos nos níveis de sindicalização com o avanço do comércio eletrônico.