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A peste Bolsonaro

A crise no Brasil atinge vários pontos. O da saúde é o mais letal, entretanto é o resultado da política e do contexto social, em um país desgovernado e sem oposição, afirmou Jair Krischke, presidente do Movimento Justiça e Direitos Humanos do Brasil (MJDH) e assessor da Regional nesse quesito, em entrevista à Rel.
Jair Krischke | Foto: Gerardo Iglesias

As conversas com Jair Krischke são sempre longas porque, além de ser um grande analista da realidade, já passou por muitas coisas, como ele mesmo diz, porém sem jamais ter imaginado viver uma situação como a atual.

«Bolsonaro continua com seu discurso para a torcida, o mesmo que manteve durante a campanha política nas eleições. É por isso que o país está um caos. Todos os domingos ele faz pronunciamentos ridículos, que repercutem na imprensa. Em meio a essa crise sanitária devido à pandemia em curso de Covid-19, isso é um grande absurdo!”.

Jair Krischke diz que o número de contagiados e de mortos (oficialmente são 500.000 e 30.000, respectivamente) deve ser muito maior, porque os dados não são confiáveis, além da falta de testes para Covid-19.

«O governo é o grande responsável por essa situação porque em meio ao pico mais alto da pandemia o ministro da saúde já foi trocado duas vezes.»

Os que ocuparam esta pasta «não se alinhavam ao discurso do presidente de que o coronavírus é só uma gripezinha e de que o isolamento social não deve ser implementado, entre outras barbaridades que contradizem as diretrizes da OMS para a Covid-19. Agora quem comanda o Ministério da Saúde é um militar”.

Mais militares, menos oposição

Como observa Jair Krischke, a cada dia que passa mais militares ocupam cargos no gabinete de Bolsonaro. Entretanto, até agora os mesmos não se prestaram aos shows midiáticos que o presidente oferece todos os domingos em frente ao Congresso, com seus apoiadores exibindo cartazes pedindo o fechamento do Parlamento e a intervenção militar contra o Supremo Tribunal Federal.

«No domingo passado, por exemplo, Bolsonaro passeou montando em um cavalo da Polícia Militar entre seus apoiadores, depois abraçou e beijou adultos e crianças. Tudo isso sem usar máscara, sem respeitar nenhum dos protocolos, mostrando mais uma vez sua posição de desafio às normas, uma tática que garantiu o seu sucesso nas eleições.»

Krischke afirma que nunca viu um presidente tão indiferente aos protocolos esperados para o seu cargo. “Ele continua em campanha eleitoral”.

«Ele deveria ser o primeiro a respeitar as leis. A prefeitura de Brasília ordenou multar todo cidadão ou cidadã que não usar máscara nas ruas, entretanto o próprio presidente infringe essa regra, numa clara postura de deboche, zombando não só das autoridades, mas também de todo o povo brasileiro”.

Essa luz de esperança

«As coisas pioram porque politicamente não temos oposição», afirma Krischke.

Para ele, a esperança daqueles que estão contra as atrocidades cometidas por esse governo está nas mãos da Justiça, alvo de constantes ataques por parte dos bolsonaristas, sendo crucial a investigação sobre o uso de fake news nas eleições presidenciais brasileiras de 2018.

Se ficar comprovado o uso de robôs financiados por empresários interessados na vitória de Bolsonaro, o fim do mandato do capitão reformado do Exército estaria próximo.

Esses fatos deixaram Bolsonaro muito nervoso porque se a justiça conseguir revelar o esquema das fake News, será o seu fim”, diz Krischke.

«Tenho fé que o novo ministro do TSE, Alexandre de Moraes, relator do inquérito no STF, magistrado muito correto e corajoso, será imparcial e, dessa forma, a verdade vencerá», conclui.