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Audiência Pública São Paulo

“A NR36 é patrimônio do movimento
sindical internacional”

A Audiência Pública de 16 de abril, convocada pelo Deputado Estadual Luiz Fernando Teixeira Ferreira (PT) e promovida pela Primeira Secretaria da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, abordou as alterações propostas para a NR 36, sobre as condições de trabalho nos frigoríficos brasileiros que se encontra sob sério risco de sofrer modificações prejudiciais aos trabalhadores do setor. Na Audiência “Trabalho em Frigoríficos / Alterações na NR 36: harmonização ou retrocesso social?”, o secretário regional da UITA, Gerardo Iglesias, realizou a intervenção que a seguir reproduzimos.

Rel UITA

“No início da pandemia, considerou-se que a Covid 19 veio para desafiar o neoliberalismo, que haveria uma grande transformação nas relações do Norte Global com o Sul Global, que o mundo seria melhor, mais solidário, que os Direitos Humanos seriam levados em consideração, promovidos e respeitados.

Ouvimos dizer que estávamos entrando em uma época em que contribuiríamos para o combate eficaz às desigualdades sociais e econômicas, onde o objetivo principal seria o Bem-estar para todos e todas. GRANDE ERRO!

Para o neoliberalismo, a Covid 19 se transformou na oportunidade para acelerar ao máximo a sua vocação extrativista, o seu avanço desenfreado contra a natureza e os seus recursos. Estão caindo na sua rede de arrasto todos os direitos, organizações, indivíduos e grupos que pretendem conter a máquina brutal das grandes corporações.

Houve quem também considerou que a pandemia geraria transformações no modelo dominante de produção agroalimentar e nas formas de se relacionar com o meio ambiente e com os seus trabalhadores e trabalhadoras: tanto os do campo como os da cidade.

Pensava-se que a Covid 19 nos convocaria para um grande diálogo social, político e econômico, onde as organizações camponesas e sindicais seriam as protagonistas. GRANDE ERRO!

Quando o vírus foi encontrado na China, em embalagens contendo carne do Brasil, alguns pensaram que esse alerta levaria as grandes empresas exportadoras a se focarem ao máximo no cuidado e proteção de seus trabalhadores e trabalhadoras. GRANDE ERRO!

Enquanto as exportações de carne cresciam sem parar e os lucros atingiam níveis sem precedentes, muitos frigoríficos, mas especialmente a JBS, se recusavam firmemente a entregar aos seus trabalhadores e trabalhadoras, em tempo hábil, as máscaras e os equipamentos de trabalho adequados, nos momentos em que os surtos de coronavírus se espalhavam por todas as unidades de produção do Brasil.

Agora, em meio à pandemia, quando muitos sindicatos estão fechados, as restrições à mobilização são máximas, agora que não podem ser realizadas assembléias e encontros presenciais para informar e alertar os trabalhadores e as trabalhadoras, o governo e as empresas aproveitam o momento para tentar minar as já precárias condições de trabalho nos frigoríficos. Mas eles estão errados!

A NR36 é uma conquista muito valorizada pelas organizações sindicais.

Foi uma luta coletiva tenaz por parte de sindicatos, federações e confederações que responderam com força ao massacre provocado pelo ritmo frenético, onde alguns trabalhadores chegavam a realizar até 120 movimentos por minuto, quando estudos científicos indicam que mais de 30 movimentos por minuto podem gerar graves lesões.

A NR36 é patrimônio do movimento sindical internacional.

É por isso que a UITA abraça de forma decidida e enérgica a luta da CONTAC e da CNTA, para que a carne mais barata não seja a do trabalhador nem a da trabalhadora.

A UITA abraça esta luta. De igual maneira é solidária com os 160 mil trabalhadores e trabalhadoras da Alemanha que estão em greve, para que o trabalho decente seja uma realidade em todos os frigoríficos desse país.

Porque a precarização em termos de saúde nos frigoríficos é igual a Covid 19: uma pandemia global.